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Reuters | Reprodução)
A coisa certa é desfazer a sociedade e afastar-se de quaisquer
empresas e atividades que envolvam as carcaças das empreiteiras destruídas pela
Lava-Jato, diz o colunista Moisés Mendes
3 de dezembro
de 2020
Moisés Mendes
é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor
especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
...
É complicada a
situação de Sergio Moro. Nos próximos dias o consultor poderá acrescentar mais
um ex diante do nome. Será ex-juiz, ex-aliado de Bolsonaro, ex-ministro da
Justiça, ex-futuro ministro do Supremo, ex-candidato a candidato a presidente
da República e ex-sócio de uma corporação americana que tenta salvar os restos
de empresas que ele ajudou a quebrar.
Moro não vai
resistir a questionamentos sérios e à desconfiança dos próprios clientes da
consultoria. O ex-juiz diz que assumiu a missão de ensinar as organizações a
fazerem a coisa certa. Mas o que é certo para quem faz o que ele vem fazendo?
Como sócio da
Alvarez & Marsal, Moro passa a ser uma figura clássica do mundo
empresarial, o cara que o boy, o porteiro e a faxineira sabem de onde veio e
que não precisa fazer muita coisa para provar nada a ninguém.
Todos sabem qual
é a grande tarefa de figuras como Sergio Moro dentro de empresas com esse
perfil. Moro vai flutuar nas zonas sombrias das atividades corporativas.
O ex-juiz
seria, até anos atrás, no ambiente presencial das empresas pré-pandemia, o
sujeito que provocava murmúrios quando passava no corredor. Lá vai ele de novo,
com sua pasta de cromo alemão, levando nada a lugar algum.
Parece
evidente que Moro será uma grife arregimentadora de clientes. Deve participar
de eventos, de conversas, de aulas, mas não é o que importa para o comando da
Alvarez & Marsal.
Na entrevista
que deu ao Estadão, ele repete o que não vai fazer (advocacia, por exemplo),
mas não se sabe direito o que de fato fará. O que a empresa faz é compliance,
um termo manjado para vender a ideia de que as empresas agora fazem a coisa
certa.
É vago. A
coisa certa é o bordão de Moro, o que não esclarece muita coisa. Moro será a
estrela de conferencistas de autoajuda, para dizer que as empresas não devem
ser desleais com a concorrência, nem roubar, sonegar, ludibriar clientes e o
setor público ou contrabandear?
A A&M diz
que Moro vai atuar na área de Disputas e Investigações, com foco em políticas
antifraude e corrupção, governanças de integridade e conformidade a normas e
leis.
Moro fará
coaching, eventualmente, para que saibam que ele mete a mão na massa. Mas não
dá para imaginar que o ex-juiz receberá R$ 1,7 milhão por ano para ser apenas
isso.
É muito
dinheiro para um risco incalculável. Pelo massacre que vem sofrendo, se insistir
em continuar como sócio da consultoria, Moro estará contribuindo para um ataque
incessante não só a ele, mas à imagem da magistratura.
Não adianta
dizer que agora o consultor é um ex-juiz. O que se considera nesses julgamentos
é a sua condição de magistrado famoso que abandonou o Judiciário e se tornou
indiferente a interrogações sobre escrúpulos e questões éticas elementares,
antes de qualquer outra abordagem legal.
Joaquim
Barbosa deixou o Supremo sob bombardeio de parte da esquerda ressentida com a
sua atuação no processo do mensalão. E foi só isso e já passou. Alguns
tentaram, mas nunca conseguiram atacar a reputação de Barbosa.
Moro deve pelo
menos inquietar-se com o que dizem dele hoje. Seria a hora de fazer a coisa
certa, depois da sequência desastrosa de atitudes tomadas desde que deixou a
magistratura.
A coisa certa
é desfazer a sociedade e afastar-se de quaisquer empresas e atividades que
envolvam as carcaças das empreiteiras destruídas pela Lava-Jato.
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