(Foto: Reuters)
“Nenhuma empresa investe num país que está
deliberadamente destruindo seu mercado interno”, diz o jornalista Leonardo
Attuch, editor do 247. “E não adianta culpar o custo do trabalho no Brasil,
porque Henry Ford defendia trabalhadores bem-pagos para que todos pudessem
comprar seus automóveis”
12 de janeiro de 2021
Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.
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Depois de 103 anos, a Ford decidiu fechar todas as suas fábricas no
Brasil. Para algumas vozes da direita, como a do general Mourão, a empresa é a
vilã da história, porque abandona o País depois de muitos anos lucrando no
Brasil (especialmente durante aquela “década” de ouro). Para setores da
esquerda, a montadora também tem culpa no cartório, porque só investiu no
Brasil enquanto conseguiu extrair incentivos fiscais.
Comecemos por Mourão, cuja fala revela total desconhecimento sobre o que
é a atividade empresarial. Nenhuma empresa, no Brasil e no mundo, vive das
glórias do passado. Só se investe ou se mantém algo em atividade, mesmo quando
há prejuízos transitórios, quando se confia no dia de amanhã. Se a Ford está
saindo do Brasil depois de 103 anos, isso significa que a empresa não enxerga
futuro algum no País. É esta uma visão acertada ou equivocada? A julgar pela
“ciência” econômica de um país cuja elite que promove golpes de estado para
reduzir salários e seu próprio mercado interno, faz todo o sentido ir embora.
Basta lembrar da lógica de Henry Ford, que defendia trabalhadores bem-pagos
para que todos pudessem comprar seus automóveis. Se no Brasil as reformas
trabalhistas visam empobrecer trabalhadores e a política econômica destrói o
mercado interno, qual é a lógica de permanecer nesta terra arrasada?
Passemos agora ao discurso de setores da esquerda. Em vez de atacar a
ausência de governo federal e a destruição econômica produzida por Jair
Bolsonaro e Paulo Guedes, muitos estão preferindo fazer um acerto de contas em
relação ao passado. O motivo é o fato de o ex-governador gaúcho Olívio Dutra,
do PT, não ter aceito a faca no pescoço da Ford, que acabou investindo na Bahia
- o que acabou custando a reeleição de Dutra, em 2002, quando ele foi derrotado
por Germano Rigotto, do MDB, após intensa campanha midiática.
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