Legenda: Desemboque do Cinturão das Águas,liberando água do São Francisco para o Riacho Seco Foto: Antonio Rodrigues
Afluentes como o Riacho Seco, o rio
Batateira e o Salgado estão cheios em época em que, geralmente, estão secos ou
com volume baixo. Agricultores e pescadores estão otimistas
Por Antonio Rodrigues | 07 de Março de 2021
A liberação das águas do Rio São Francisco pelo chamado “eixo
emergencial” do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), no último dia 1º, mudou o
cenário de riachos e rios que cortam a região do Cariri. Além de aumentar seus
volumes, encheu de esperança os olhos de agricultores e pescadores que vivem em
suas margens. Os recursos hídricos, almejados há muitos anos, já percorreram
264 quilômetros, desde a barragem de Jati, desembocando no rio Jaguaribe em
direção ao Açude Castanhão, para garantir a segurança hídrica da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Há um ano, também na primeira semana do mês de março, a equipe do Diário
do Nordeste visitou o Riacho Seco e a Cachoeira de Missão Velha, em Missão
Velha, ainda na expectativa pelas águas do Velho Chico. O primeiro, como o nome
mesmo diz, estava completamente seco. Já a Cachoeira, ainda formava suas belas
quedas d’água pelas precipitações sobre Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha e
que seguem até lá pelo Rio Batateira, mas sem o mesmo volume.
“Nunca imaginei que o São Francisco estaria correndo no quintal de minha casa”, confessa o agricultor Roberto Silva, que mora ao lado do Riacho Seco. Natural de Aurora, há três anos se mudou para a zona rural de Missão Velha e trabalha cultivando banana. Com o rio cheio, nutre esperança. “Vai trazer muito benefício para a população que tem seus terrenos perto do rio. Quem sabe, pode cultivar mais verdura aqui, no Coité e Canabrava”, observa, citando as comunidades vizinhas. “Ainda tem o benefício de trazer água para quem não tem. Ajudar quem necessita”, projeta.
Legenda: A Cachoeira de Missão Velha, em dois momentos: seca, em 2020, e com a água que recebeu do Rio São Francisco Foto: Antonio Rodrigues
O agricultor Expedito João Xavier já é mais contido. “A água aqui vai
descer para o Castanhão, para abastecer Fortaleza”, comenta. Mesmo assim, a
passagem do São Francisco por suas terras é benéfica. “Tem época que aqui a
seca é grande. Então, acredito que vai descer muito peixe. Falam que são mais
de três metros de água de lá para cá. Com muita gente precisando, isso chegou e
a gente fica de braços abertos”, completa.
Ampliação
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o volume liberado para o CAC é de 10m³/s. No entanto, em campo, será avaliado a capacidade de ampliar para 12 m³/s. A decisão de liberar a água neste mês de março foi motivada, justamente, para minimizar a perda de água durante o percurso. “As calhas dos rios estão bem úmidas e com algum fluxo natural, contribuindo para diminuir as perdas por infiltração, evaporação e por retiradas. Ninguém irriga na chuva. Deste modo, o tempo de viagem da água será menor que seria no segundo semestre, com leitos dos rios secos”, explicou o secretário de Recursos Hídricos do Estado, Francisco Teixeira.
Legenda: O leito do Riacho Seco, em Missão Velha, mudou drasticamente, entre 2020 e 2021, como se vê nos registros Foto: Antonio Rodrigues
Mais à frente, o pescador Francisco José da Silva, o Titico, morador do
sítio Araçá, em Aurora, se surpreendeu com o volume que corre pelo rio Salgado.
Ao longo de seus 79 anos de vida, o afluente foi sua principal fonte de renda,
a partir da captura e venda de peixes como piau e curimatã. Nos últimos anos,
com as chuvas mais escassas, a atividade foi se enfraquecendo e, por isso, ver
o Velho Chico passando na frente da sua casa o emociona. “Nem imaginava. Já
estou com uma idade tão alta, quase nos 80, e vê assim, é muito bonito”,
confessa.
Em época de cheia, a “fartura” é tão grande que chegava a vender peixes
em Missão Velha, Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte “e já voltava de lá com
minha feira”, lembra Titico. “E não parava. Se tivesse peixe, vendia. Era
tanto, que terminava dando ao povo”, completa. Com o São Francisco, imagina
essa riqueza retornando e também melhorando as condições dos agricultores. “Só
se o povo não tiver coragem de trabalhar. Vai melhorar para todo mundo. Em
beira de rio, que a terra é úmida, tudo que planta dá. Melhor do que limpar
roça cheia de toco. O que vale é ter inteligência e correr para aquilo ali”,
acredita o pescador.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) tem como atendimento
prioritário o abastecimento humano de aproximadamente 400 municípios, nos
estados do Ceará, de Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. A obra,
complementarmente, atenderá as comunidades rurais que estão distribuídas ao
longo dos eixos. As águas do São Francisco “funcionarão como uma fonte hídrica
permanente para o uso preponderante da população, que é o abastecimento humano,
urbano e complementarmente rural”, completou a SRH. Como exemplo, citou o
projeto Malha D’água, que criará quatro sistemas partindo do canal do CAC com
adutores que levarão a água a dezenas de municípios, distritos e as comunidades
rurais.
Monitoramento
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) está monitorando,
diariamente, o percurso do recurso hídrico pelo fluxo natural dos rios até a
chegada no açude Castanhão. Um sistema criado a partir de seções poderão
acompanhar se há perda de volume durante o trajeto, seja por infiltração,
evaporação ou retirada.
Ao todo, o monitoramento acontece em 14 seções instaladas ao longo dos
de 347,5 quilômetros de distância, desde a comporta na barragem de Jati até o
açude Castanhão. Especificamente do desemboque do eixo emergencial, que liberou
a água ao Riacho Seco, até o maior reservatório do Estado, são 294,1
quilômetros de trajeto. Na última atualização, as águas do São Francisco
alcançaram a seção de Cruzeirinho, em Icó, que fica a 211,2 quilômetros da
liberação do Riacho Seco.
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