(Foto: Reuters | ABr)
Além de destruir empresas, empregos e a
economia brasileira, a operação Lava Jato jogou uma "pá de cal na
democracia do país" ao criminalizar a política, disse especialista à
Sputnik Brasil
9 de março de 2021
Sputnik - Segundo levantamento feito pelo Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a operação fez o país
perder R$ 172,2 bilhões.
O estudo, encomendado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), diz
ainda que o Brasil deixou de arrecadar 40 vezes mais do que o valor recuperado
com a operação (R$ 4,3 bilhões).
Para Clarisse Gurgel, professora da Unirio (Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro), o relatório apenas confirma agora o que já era
percebido no dia a dia da população brasileira. A cientista política diz que o
levantamento "consegue traduzir por números fenômenos que têm sido cada
vez mais cotidianos".
"Algo que já tinha se experimentado no dia a dia da população
brasileira, mas que agora se confirma em dados e números mais precisos, que é
um contexto de absoluto abandono de um país que foi devastado, seja no que diz
respeito a sua natureza, ao seu desenvolvimento, a sua independência, seja no
que diz respeito as suas liberdades, a sua participação popular, a sua
democracia e as suas instituições republicanas", disse Gurgel.
Empregos destruídos
O estudo do Dieese também indica que o país deixou de arrecadar R$ 47,4
bilhões em impostos. Dessa quantia, R$ 20,3 bilhões seriam em contribuições
sobre a folha de salários.
Segundo o levantamento, as consequências da operação Lava Jato
provocaram o fechamento de 4,4 milhões de empregos. O setor mais afetado foi o
da construção civil, que perdeu 1,1 milhão de postos de trabalho no país.
Para Gurgel, empreiteiras "foram cirurgicamente perseguidas pela
Lava Jato", que, segundo ela, teve como resultado nefasto a perda de
investimentos que essas empresas e a Petrobras geravam. Além disso, Gurgel
ressalta que esses empregos produziam "consumo e tributos".
"Tudo aquilo que o governo Lula e o governo Dilma produziram de
perspectiva de autonomia na geração de empregos e mercado, ruiu a partir do
governo Temer e Bolsonaro", disse a professora.
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Nesta segunda-feira (8) a Lava Jato sofreu um duro golpe, com a anulação
de duas condenações e dois processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou
que o ex-juiz Sergio Moro, que foi titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, não
era o "juiz natural" dos casos. A Procuradoria-Geral da República
(PGR) deve recorrer da decisão.
"Manto de neutralidade"
Para Clarisse Gurgel, a Lava Jato, sob um "manto de neutralidade e
imparcialidade", combateu uma política de autonomia brasileira em relação
aos Estados Unidos, e de aproximação com novos parceiros, como países da
África, América Latina e China, e que tinha como uma de suas bases o
"fortalecimento de empreiteiras e da Petrobras".
Em relação ao aspecto político, Gurgel diz que a Lava Jato "não
pode ser subestimada", pois "representou muita coisa para o
Brasil".
"Ela foi o pano de fundo legitimizador de uma política de
criminalização da política. Foi a partir da Lava Jato, a partir,
principalmente, da figura de Moro, que a política pôde ser afastada da
perspectiva do brasileiro, que já sofre, desde a década de 50, uma restrição da
democracia por imposição dos norte-americanos", avaliou a especialista.
"Expurgar a política"
Segundo ela, a Lava Jato, ancorada em uma falsa pretensão de
imparcialidade, buscou imprimir uma "espécie de assepsia e higienismo da
sociedade brasileira como um todo".
Para a pesquisadora, é como se tivesse ocorrido uma "transferência
de poder para o judiciário", que passou a "ser o mais apto a dizer
quem deve ter poder ou não". Segundo ela, a democracia brasileira, que já
era frágil, sofreu um golpe brutal a partir da Lava Jato e seus desdobramentos.
"É como se o judiciário viesse para expurgar a política da vida dos
brasileiros. Isso fez com que se terminasse de colocar uma pá de cal na
democracia do país", disse Clarisse Gurgel.
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