(Foto: ABr | Reuters)
Jornalista Márcio Chaer, editor do portal
Consultor Jurídico, demonstra como a “perícia” da PF sobre as mensagens de
Delgatti foi feita sob encomenda para ajudar o ex-juiz Sérgio Moro, condenado
por parcialidade, e os procuradores de Curitiba
13 de abril de 2021
Márcio Chaer, Conjur - Um sargento morreu por causa da explosão de uma
bomba dentro do automóvel em que estava e que arrebentou também grande parte da
barriga do capitão que o acompanhava. Os dois, trabalhando para o serviço
secreto do Exército, haviam sido incumbidos de explodir um centro de convenções
onde 20 mil pessoas assistiam a um show alusivo ao Dia do Trabalhador.
Isso aconteceu no dia 30 de abril de 1981, uma quinta-feira, véspera do
1º de Maio. Mais coragem que os dois desastrados, que acabaram cometendo um
atentado contra si próprios, teria o coronel do Exército, Job Lorena, dois
meses depois. Estribado em uma perícia de 700 páginas, Lorena tentou convencer
os brasileiros de que a bomba fora jogada no carro por terroristas — teoria que
seria desmentida pelas investigações.
Nesta segunda-feira (12/4), três peritos da Polícia Federal entraram
para o hall da fama junto com o coronel Lorena. Elcio Ricardo de Carvalho,
Wilson Dos Santos Serpa Júnior e Fábio Melo Pfeifer produziram um
"laudo", em nove páginas, para duvidar da autenticidade dos arquivos
roubados pelo hacker Walter Delgatti, do armazém de dados do procurador Deltan
Dallagnol.
Com um texto discursivo e retórico, o trio esbanja adjetivos e não
oferece qualquer base concreta para suas conclusões — para tentar dar ares de
sentença judicial ao que deveria ser um trabalho técnico. Os peritos não
cruzaram nem checaram informações, não auditaram os arquivos e, por fim, não
indicaram uma única inconsistência para concluir que os diálogos "podem
ter sido" adulterados.
O hacker Walter Delgatti não disse que invadiu o Telegram, mas sim o
material que Deltan armazenou na nuvem. Dali, ele baixava os arquivos no
Dropbox. E, conforme explica o próprio Dropbox, qualquer alteração feita pode
ser verificada. O que, se foi feito, não aparece no "laudo". Claro
que tudo seria esclarecido se os envolvidos franqueassem seus dispositivos para
verificação.
Algoritmos à parte, é possível verificar a veracidade das conversas. Os
diálogos citam ofícios, decisões, notícias, reuniões, viagens que são
combinados nos diálogos. Qualquer jornalista checaria se os fatos ocorreram
depois: ofícios e decisões têm número e data; as notícias estão na internet;
para reuniões há agendas e para viagens há bilhetes aéreos.
Nos arquivos, além de planilhas e documentos, há fotos, vídeos e áudios.
Mas, segundo os peritos, não se pode presumir que isso tudo não foi adulterado.
Mais que isso, se o hacker baixou os arquivos de Deltan da nuvem — e os
equipamentos usados pertencem à PGR, assim como telefones, laptops e
computadores dos interlocutores de Deltan —, as informações que os peritos
deveriam procurar estão nas mãos do próprio Estado. Ou seja, ao alcance da PF.
Mas o fato de os procuradores terem negado ao Estado a prova que o Estado diz
ter procurado, aparentemente, não interessava aos policiais.
Alguns dos procuradores da República de Curitiba se habilitaram no
processo contra o hacker na condição de vítimas e receberam cópia dos arquivos.
Eles nunca apontaram qualquer divergência entre o que escreveram e o que está
documentado a partir da apreensão dos arquivos. Ao contrário, a procuradora
Jerusa Viecili pediu desculpas a Lula pelo que disse a respeito do velório do
neto do ex-presidente. Sergio Moro pediu desculpas ao Movimento Brasil Livre
(MBL) por tê-los ofendido nos diálogos.
Não se apurou se de fato houve os encontros com procuradores dos Estados
Unidos ou da Suíça para trocar informações estratégicas contra as empresas
brasileiras. Nem se combinaram "rachadinhas" com dinheiro de multas
de empresas. Ignorou-se, ainda, que, no Laudo de Apreensão dos arquivos, os
diferentes dispositivos foram logo de início periciados — e considerados
íntegros.
Nesse laudo de apreensão, ressalvaram os primeiros colegas dos peritos a
avaliar o material, caso surgisse alguma dúvida posterior, qualquer possível
adulteração poderia ser detectada, já que a Polícia Federal tem capacitação
técnica para isso. O novo "laudo", divulgado dois dias antes de o
Supremo Tribunal Federal discutir de novo a incompetência de Curitiba e a
suspeição de Moro, tem um lugar na história, ao lado do Inquérito Policial
Militar de Job Lorena.
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