(Foto:
Agencia Brasil | Stuckert)
"Sérgio Moro não foi apenas parcial ou suspeito. Foi também
corrupto", aponta o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247
23 de abril de
2021
Leonardo
Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.
. . .
Coube ao
deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) traduzir para o povo brasileiro a real
condição do ex-juiz Sergio Moro, declarado suspeito e parcial pelo Supremo
Tribunal Federal há algumas semanas, numa decisão que foi confirmada ontem pelo
plenário da corte. "Juiz ladrão", resumiu o parlamentar.
Ladrão? Não
seria a palavra forte demais? Pretendo demonstrar neste artigo que não. Na
mídia amiga, o ex-juiz de Curitiba ainda será tratado por muitas de suas viúvas
como herói ou, no máximo, como "suspeito" e "parcial". Mas
tais palavras são leves demais para qualificar a relação de compra e venda que
o magistrado manteve com seus principais aliados políticos e econômicos.
Voltemos,
pois, à analogia do futebol. O que leva um juiz a marcar, de forma dolosa, um
pênalti inexistente? Se fosse apenas a sua torcida pessoal pelo time
beneficiado, o que seria análogo à ideologia no mundo da política, isso já seria
grave e provaria a desqualificação do árbitro para o ofício do apito. Mas e se
ele estivesse vendido para a diretoria do clube que levou o campeonato com um
gol roubado? Neste caso, a "ideologia" deveria ser chamada de
corrupção, pura e simplesmente.
O caso de Moro
é emblemático. Sua relação com os patrocinadores de suas ações não foi
meramente ideológica. Foi também de compra e venda, ainda que o pagamento não
tenha sido realizado em espécie ou à vista. Comecemos pela Globo, que deu a ele
o prêmio "Faz Diferença". A empresa da família Marinho entregou ao
ex-juiz condenado capital simbólico, que é uma das mais valiosas formas de
capital. Fez de um obscuro magistrado de Maringá um personagem famoso
nacionalmente e por muitos tolos admirado. Esta fama foi depois convertida em
dinheiro, seja por meio de palestras, pareceres ou contratos de trabalho. E não
se pode alegar legitimidade na relação entre um monopólio de comunicação
privado, que tem gigantescos interesses econômicos e políticos, com um juiz, que,
pela própria natureza do cargo, deveria se manter distante de todo tipo de
interesse particular.
Da mesma
forma, Moro também recebeu capital simbólico dos Estados Unidos, um país que
não vê necessariamente com bons olhos a ascensão econômica e geopolítica do
Brasil. Ganhou capas de revistas, recebeu prêmios internacionais, foi herói de
série da Netflix e, finalmente, terminou contratado por uma firma americana
especializada em recuperação judicial, a Alvarez & Marsal, que lucrou com
empresas quebradas pelo próprio Moro, como a OAS e a Odebrecht. Graças a essa
parceria informal mantida pelo juiz paranaense com um outro país, o Brasil
ficou mais pobre. Perdeu suas empresas de engenharia, sua influência
internacional e 4,4 milhões de empregos. Moro, no entanto, ficou mais rico.
Muito mais rico.
Passemos agora
à relação do ex-juiz "suspeito" e "parcial" com seus
aliados políticos. Quem não se lembra de seus sorrisos dóceis e amáveis para
Aécio Neves, José Serra e Michel Temer? O que dizer da decisão de não investigar
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que pediu dinheiro para a Odebrecht
e recebeu doações para seu instituto, alegando que não poderia molestar um
potencial aliado, mesmo depois de ser alertado por um procurador que se estava
diante de "batom na cueca"? Moro fechou os olhos porque tinha uma
agenda política própria e que atendia aos interesses econômicos das petroleiras
internacionais, assim como aos interesses políticos do PSDB e de todos os
golpistas. Era tudo tão escancarado que eu nem precisei lembrar, até este ponto
deste artigo, que ele aceitou ser ministro de Jair Bolsonaro, personagem que só
se tornou presidente, para desgraça do Brasil e dos brasileiros, porque Moro
roubou uma eleição, depois de ter atentado contra o princípio maior da
Constituição brasileira, que é a soberania do voto popular.
Recapitulemos.
Moro primeiro vazou para o Jornal Nacional, da Globo, um grampo ilegal da
ex-presidente Dilma Rousseff, contribuindo para criar o clima para o golpe de
2016. Em 2018, prendeu "a jato" o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, a tempo de impedi-lo de disputar uma eleição presidencial. Depois,
interrompeu suas férias para impedir que ele fosse solto num fim de semana e
pudesse simplesmente dizer que apoiava Fernando Haddad. E, se tudo isso não
fosse suficiente, também vazou uma delação inconsistente contra o Partido dos
Trabalhadores, a de Antônio Palocci, às vésperas da eleição presidencial,
quando já negociava com Jair Bolsonaro.
Com suas
ações, Moro destruiu a democracia, o sistema de justiça, a economia e a imagem
do Brasil. E mesmo aqueles que se tornaram fãs do herói de barro foram
prejudicados por suas atitudes. Todos os brasileiros hoje valem menos. São
alvos de piadas, por vezes de compaixão e em muitas oportunidades de preconceito.
"Como vocês foram capazes de eleger um fascista? Como e por que decidiram
se autodestruir como nação? Por que escorregaram da sexta para o posto de
décima-segunda economia do mundo?", questionam-nos.
Porque aqui
houve um ex-juiz que teve força para trair os interesses nacionais, corromper o
sistema de justiça e ganhar muito dinheiro enquanto quase todos ao seu redor
empobreciam. Este ex-juiz não foi apenas "parcial" e
"suspeito". Foi também corrupto e ladrão, como definiu Glauber Braga.
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