(Foto: Reprodução)
"O pedido de Habeas Corpus solicitado
pela Advocacia Geral da União em favor do ex-ministro da saúde, general Eduardo
Pazuello, é a prova que o atual governo trata a República e suas instituições
como artifícios em favor da vida privada de seus integrantes e amigos",
afirma a colunista Carla Teixeira
14 de maio de 2021
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho
Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais -
UFMG
...
Ainda bem que o Brasil não é um país afeito a guerras e conflitos
bélicos. Do contrário, quem nos defenderia: os velhos generais da reserva que
tomaram vacina escondido por medo do presidente ou o general da ativa que
obedeceu bovinamente as ordens assassinas de um tenente promovido a capitão
após ser expulso da corporação?
Causa espécie e profunda indignação perceber que o Exército brasileiro,
ao longo da história, serviu apenas para matar seu povo e garantir o atraso
social, atuando com crueldade e covardia, completamente distante dos preceitos
profissionais que se espera dos integrantes das Armas.
Sem contar com um projeto de defesa nacional, as Forças Armadas são como
parasitas que tiram dinheiro da saúde e da educação, provocam crise política e
federativa para, em seguida, apresentarem-se como portadores de soluções para
os problemas criados por elas mesmas. Seria cômico se não fosse trágico e
custasse milhares de vidas inocentes.
O pedido de Habeas Corpus solicitado pela Advocacia Geral da União em
favor do ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazuello, é a prova que o atual
governo trata a República e suas instituições como artifícios em favor da vida
privada de seus integrantes e amigos, numa autêntica demonstração de que o
velho patrimonialismo forjado na época do Império se mantém vivo junto ao que
há de pior em nossa cultura política republicana.
A legislação brasileira, por inquestionável e necessário princípio
democrático, garante a qualquer investigado o direito de permanecer em silêncio
para que não produza provas contra si mesmo. Foi a partir de tal princípio que
o ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, concedeu ao
general o direito de manter-se em silêncio caso seja questionado sobre ações
pessoais que tenha praticado durante a pandemia, mas não o livra de responder
sobre ações de terceiros que, porventura, sejam objeto de inquirição da CPI do
Genocídio.
O direito ao silêncio concedido ao “gordo favorito” do presidente
afrouxa, mas não tira a corda do seu pescoço às vias de estrangular as
intenções assassinas e desumanas que guiaram a condução genocida que praticou
durante a pandemia, a mando do seu chefe. Fica patente que além de incompetente
e desqualificado, o general Pazuello também é um covarde incapaz de assumir
suas responsabilidades.
Por sua vez, é o silêncio ensurdecedor dos 430 mil mortos pela covid-19
que não se pode deixar de notar. A imposição do silêncio provocado pelas mortes
contrasta com o direito ao silêncio adquirido pelo general genocida que
recusou-se a comprar vacinas, seringas, agulhas, fornecer oxigênio e sedativos
às vítimas que sufocaram em diversas regiões do país enquanto o Exército
produzia e distribuía cloroquina para asseverar que o sujo serviço de
assassinato em massa tivesse êxito garantido.
Depois de utilizar a desculpa de ter mantido contato com pessoas
infectadas pelo coronavírus para fugir do seu depoimento, marcado para o dia 4
passado, e contando com a confirmação de suspeita de infecção proferida pelo
próprio comandante do Exército, general Paulo Sérgio, não há como deixar de
suspeitar que a ação de fuga de Pazuello foi orquestrada pelo Exército com
apoio do Planalto para que se ganhasse tempo a fim de conquistar o HC
adquirido.
Os senadores seguem dizendo que o Exército não será investigado pela CPI
do Genocídio, mas não há como dissocia-lo da tragédia que estamos vivendo,
principalmente ao pensar que foram três generais que atuaram, diretamente, para
atrasar a vacinação no Brasil enquanto a instituição trabalhava para distribuir
medicamentos ineficazes com valores superfaturados. E, agora, com a CPI, o
próprio comandante envolveu-se para corroborar a versão de suspeita de
infecção, garantindo a ausência de Pazuello, numa palavra de fé pública que
convence tanto quanto a idoneidade dos policiais que protagonizaram a recente
chacina de Jacarezinho, no Rio de Janeiro. São filhotes da ditadura, diria o
velho Briza. Tudo a mesma sopa, na versão de Mino Carta.
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