(Foto: Twitter/Guilherme Boulos)
Para o jornalista César Fonseca, a
juventude pedindo revogação do mandato de Bolsonaro é, indubitavelmente, o novo
e palpitante fato político. "Ela, dando aula de civilidade, disse alto e
bom som que não dá para esperar 2022", afirmou
29 de maio de 2021
Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul
Americana
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Despertar juvenil
É o que se pode ver com nitidez na Esplanada dos Ministérios o resultado
político de um mês da CPI da Covid-19, que colocou a nu o bolsonarismo
genocida: a juventude de peito aberto pedindo revogação do mandato de Bolsonaro
é, indubitavelmente, o novo e palpitante fato político; ela, dando aula de
civilidade(todos de máscara, alcoolgel e distanciamento, conforme protocolo
científico) disse alto e bom som que não dá para esperar 2022; tem que ser
agora, já, a saída do capitão presidente; deu para fazer paralelo com o que
aconteceu há 30 anos, em 1992, no mesmo local, com a juventude mobilizada para
derrubar Fernando Collor; ela vestira de preto, enlutada, para negar sugestão
collorida de encher as ruas vestida de verde-amarelo; o que se viu em protesto
foi o repúdio geral dos jovens diante daquele que convocava a população para
salvá-lo da CPI que apontou a corja corrupta do presidente que perdera
confiança popular; Paulo César Faria, o caixa ambulante da campanha eleitoral
de Collor, havia aprontado demais e deixado rastro grosso de roubalheiras, que
acabaram detonando o mandato collorido; com muito mais razão, agora, os jovens
se mobilizam com gritos fortes para protestar contra mais de 450 mil mortes
produzidas pelo negacionismo bolsonarista; à motivação explícita, o genocídio
bolsonarista, que, nesse final de semana, mobiliza juventude em mais de 85
cidades brasileiras, segue a motivação implícita que bate fundo na consciência
juvenil: sua oposição à tentativa do governo de jogá-la na marginalização
social.
Sem chances com Bolsonaro
Com o bolsonarismo ultraneoliberal, que produz mais de 15 milhões de
desempregados, somados ao dobro disso, que são os trabalhadores desalentados,
desocupados, por desistirem de procurar empregos inexistentes, os jovens se
veem, no momento, como verdadeiros párias; reagem, radicalmente, a essa
possibilidade sinistra; lutam, agora, nas ruas contra sua exclusão social
definitiva; reagem, energicamente, às reformas neoliberais, que destruíram
direitos econômicos e sociais, jogando na lata de lixo a Constituição cidadã de
1988; dão grito de guerra contra governo
inconstitucional; bradam contra reforma previdenciária que inviabiliza o futuro
dos trabalhadores, eliminando direitos às
aposentadorias; a reforma trabalhista acabou com salário mínimo e
estabeleceu a regra do capital segundo a qual passa a valer o negociado no
lugar do legislado; ou seja, a lei passa a ser a faca afiada contra o pescoço
do proletariado; em nome do ajuste fiscal neoliberal, cuja essência é a
desestatização acelerada com sucateamento das estatais, os agentes
indispensáveis do projeto desenvolvimentista, a juventude ficou sem amparo
futuro; foram os agentes desenvolvimentistas que criaram as bases da educação
técnica sem a qual a juventude brasileira não tem como enfrentar os desafios ancorados na ciência e tecnologia, como
fatores de avanço da produtividade e eficiência econômica no mundo globalizado.
Fim da anestesia alienante
Até o momento os jovens estavam sendo anestesiados pela mídia
conservadora golpista que derrubou o governo popular que conduzira,
democraticamente, o Brasil de 2003 a 2016; nesse período, democratizou-se,
amplamente, o acesso dos jovens ao ensino universitário, mediante oportunidades
jamais vistas, por meio de aumentos de gastos sociais e valorização do salário
mínimo, graças aos quais os mais pobres puderam se alimentar, morar, estudar e
viajar; milhares de jovens pobres foram para o exterior se especializar em
carreiras universitárias e cursos de preparação técnica etc; os cortes
orçamentários violentos impostos pelos neoliberais com imposição do teto de
gastos, previstos para vigorar de 2016 a 2036, barraram, abruptamente, as
chances da juventude de se formar e sonhar com futuro profissional; o reajuste
do orçamento da saúde, da educação, da segurança e da infraestrutura,
necessário para garantir formação sólida da juventude, virou fumaça; a correção orçamentária passou
a ser realizada, apenas, com base na inflação do ano anterior; os neoliberais
assaltaram o orçamento e caparam o futuro da juventude, em nome do ajuste
fiscal, expresso em pagamento de juros e amortizações na base da especulação
financeira; educação virou mera despesa aos olhos neoliberais, destruindo
entendimento de que são investimentos necessários à independência econômica
nacional com conquista de conhecimento, maior riqueza de uma nação; o
bolsonarismo relega a juventude à barbárie; por isso, nessa mobilização, ela
aparece, quantitativa e qualitativamente,
como personagem central das ruas para resgatar conquistas sociais
perdidas; deram seu grito: colocar o
Brasil em novo rumo adequado aos sonhos e anseios maiores dela, para ser mais
do que foram seus pais e botar o país no rumo do desenvolvimento com justiça
social.
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