Por Milton Alves* | 22 de maio de
2021
O dia estava ensolarado em Brasília no dia das mães, e o presidente Jair
Bolsonaro aproveitou para reunir um grupo de amigos, até aí nada de mais. A
surpresa daquele dia não foi uma nenhuma declaração bombástica ou provocadora
de Bolsonaro, o que chamou a atenção foi a ostentação do presidente que
degustou uma macia e suculenta peça de picanha de gado importado do Japão ao
preço de R$ de 1.800 o quilo – o corte da raça Wagyu é uma iguaria para poucos,
pouquíssimos.
Enquanto isso, a maioria da população brasileira viu a carne bovina, uma
proteína tão apreciada no país, desaparecer do seu prato, assolada por uma
inflação galopante, um desemprego recorde e uma pandemia que já bateu a marca
de quase 450 mil mortos.
Ou seja, uma crise econômica e sanitária que penaliza severamente a
imensa maioria da população, principalmente da classe trabalhadora. O gesto
esnobe e boçal do presidente foi revelador do seu desprezo pelas agruras do
povo.
Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que o
consumo de carne atingiu o seu menor nível em 25 anos. Só nos primeiros quatro
meses do ano, o consumo per capita de carne bovina caiu mais de 4% em relação a
2020, informa o órgão governamental.
Segundo dados da Conab, hoje, cada brasileiro consome 26,4 quilos desta
proteína ao ano, queda de quase 14% em relação a 2019, quando ainda não havia
crise sanitária. Este é o menor nível desde 1996, início da série histórica da
Conab.
A volta da inflação é mais um dos efeitos da política econômica
desastrosa de Bolsonaro, que fez a opção de atrelar os preços dos produtos
nacionais aos preços internacionais das commodities, elevando os custos das
carnes, grãos e combustíveis no mercado interno. Além disso, a desvalorização
do real reforçou a política do agronegócio de surfar na alta demanda
internacional por alimentos, obtendo fabulosas margens de lucros no mercado
externo.
Neste sentido, os preços dos produtos que integram a cesta básica do
brasileiro ficaram mais caros. Segundo a última pesquisa feita pelo IBGE, o
preço das carnes em geral subiu 35% no país nos 12 meses até o mês de abril.
Com o preço proibitivo da carne, os brasileiros optaram pelo consumo de
frangos, suínos e ovos – o campeão de consumo das famílias nesta temporada de
alta inflacionária. No entanto, isso não significou nenhum alívio para a bolsa
do povo. O mesmo levantamento do IBGE constata uma disparada nos preços das
carnes de frango e porco. Em 12 meses, a carne de porco acumula alta de 29,88%.
O frango inteiro e frango em pedaços acumulam altas de 13,38% e 14,62%,
respectivamente. Já o ovo de galinha subiu 5,27% neste período.
O surto de carestia é apenas uma das faces do problema, o mais grave é a
volta da fome e do fenômeno da insegurança alimentar cotidiana, que afeta mais
de 120 milhões de brasileiros – mais da metade da população. Um crime
premeditado pela ganância capitalista contra o povo num país que produz milhões
de toneladas de safras de grãos e possui rebanho suficiente para garantir com
fartura a alimentação de todos os brasileiros.
O governo Bolsonaro, serviçal do agronegócio e dos especuladores
financeiros, não tem nenhum compromisso no enfrentamento da questão da fome e
da inflação de alimentos. Ao contrário, a política econômica bolsonarista é a
responsável direta por tudo isso. Com Bolsonaro no governo, é mais carestia,
fome e prato vazio na mesa.
Ao lado do combate pelo fim do governo Bolsonaro, é urgente a demanda
por políticas imediatas como o tabelamento dos produtos da cesta básica, o
congelamento das tarifas de gás, água e energia elétrica, a distribuição pelos
governos de cestas básicas para as famílias em situação de fome, a volta do
auxílio emergencial de R$ 600 e medidas para ampliar o financiamento da
agricultura familiar.
*Milton Alves é ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política
Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), ‘A Saída é pela
Esquerda’ (2020) e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) –
todos pela Kotter Editorial. Escreve semanalmente em diversas mídias
progressistas e de esquerda.
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