Por Fernando Brito | 16/05/2021
Já vem de meses a história do Cinderelo da centro direita, aquele que ia
surgir esplendoroso e cujo destino seria calçar direitinho no desejo dos
brasileiros de “nem Bolsonaro, nem Lula”, disparando nas pesquisas para vencer
as eleições de 2022.
Já estamos quase na metade do ano e nada do Cinderelo e vai chegar o fim
de 2021 sem que o distinto dê as caras. Até o Luciano Huck, um dos pretendentes
a isso está deixando para trás a pretensão de ser a mais velha novidade na
disputa eleitoral e aceitando a muito bem paga vaga do Faustão nos domingos
globais.
O que surge parece e é piada: até Danilo Gentili e João Amoedo querem se
lançar ao páreo.
E, agora, fixaram-se na ideia de que podem tirar da eleição o monstrengo
que fizeram presidente em 2018, apostando no seu derretimento total ou num
impeachment que, embora cheio de razões há muito tempo, só agora passa a
interessar porque ele é um estorvo eleitoral e não tem condições para “entregar
a encomenda” de vender patrimônio e retirar direitos sociais.
O vezo golpista de parte de nossa elite é mesmo incorrigível. E é tão
burra que até um microcéfalo como Jair Bolsonaro a desmonta.
Não entende que Bolsonaro conta com ela com o que ela própria procura
construir no eleitorado para ter chances em 2022: um ódio e uma exclusão
política que não admite o convívio com forças progressistas e de natureza
social que Lula encarna.
Será que pensam que as pessoas não percebem que a busca alucinada pelo
tal “3ª via” é, a esta altura, nada mais tem a ver com a perspectiva de
encontrar alguém capaz de vencer Bolsonaro, mas com quem possa derrotar, com o
mesmo ódio antipetista, o ex-presidente Lula?
E que Jair Bolsonaro desarma esta estratégia não se tornando mais
flexível e agregador, mas fazendo exatamente o contrário: firmando-se e
afirmando-se cada vez mais o inimigo, o adversário, o cruzado do antilulismo?
O que, por exemplo, Ciro Gomes ganhou com sua estratégia de
apresentar-se como “Lula, PT, de jeito nenhum”? Cair de 12 para 6% nas
pesquisas? O que Dória deixando de ser o “odiador” paulista do Lula por
tornar-se crítico acerbo de Bolsonaro, depois do BolsoDória de 2018? Mesmo com
seu desempenho com a vacina – ainda que com as tiradas demagógicas – correto e
digno de todo aplauso, perdeu seu eleitorado e qualquer viabilidade eleitoral,
que lhe falta até para dominar seu partido.
A exibição a cavalo de Jair Bolsonaro hoje, diante de suas manadas
fundamentalistas bem poderia ser o retrato do que ele fez com a direita
brasileira: é o “macho” que a montou e a controla.
Até mesmo o ex-deus Moro, artífice-mor do desastre que culminou com sua
eleição foi destruído e o que remanesceu de seus “eleitores”, na sua falta,
migra para o ex-capitão.
E, se Bolsonaro está a cavalo, a direita está à pé, assistindo Lula
comer pelas beiradas seus eleitores e até mesmo seus quadros políticos mais
lúcidos, que já buscam uma política de alianças com petista que elhes assegure
posições regionais e bancadas parlamentares, que é do que vivem por falta de
organicidade, que um dia tiveram com os tucanos.
Direita orgânica quem tem – com o paradoxo de adorar agrotóxicos, na
plantação e na vida social – quem tem é Bolsonaro.
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