A delegada Denisse Ribeiro foi retirada das investigações sobre atos pró-golpe, após pedir buscas no Planalto. Agente queria provas de que o governo distribuía dinheiro para canais bolsonaristas que estimulavam um golpe. A investigadora foi afastada do caso pela PF
16 de junho de 2021
Delegada Denisse Ribeiro (Foto: Reprodução
| Pedro França/Agência Senado)
A delegada responsável pela Operação Lume, Denisse Ribeiro, foi retirada
da investigação 14 dias após pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF)
autorização para uma busca e apreensão no Palácio do Planalto, sede do governo
federal.
O pedido para a realização da segunda fase da ação, que investiga a
organização e o financiamento de atos pró-golpe, foi feito em 25 de junho de
2020. Investigadores tinham como objetivo procurar provas de que agentes
públicos distribuíram dinheiro do governo para canais bolsonaristas que
estimulavam movimentos na internet e nas ruas pelo fechamento do Congresso
Nacional e do Supremo, e a volta do AI-5 (Ato Institucional número 5), o mais
duro dos anos da Ditadura Militar (1964-1985).
Os alvos da delegada seriam a Secretaria de Comunicação da Presidência
da República, que funciona dentro do Planalto, o Ministério da Mulher, Família
e Direitos Humanos, os endereços do ex-secretário de Comunicação Fabio
Wajngarten e um canal bolsonarista no YouTube. As informações foram publicadas
pelo portal Uol.
Oito dias após o pedido ser enviado ao STF, Jair Bolsonaro teve uma
reunião com o então ministro da Justiça, André Mendonça, de acordo com a agenda
oficial de 2 de julho. Em 6 de julho, o titular da pasta se encontrou com o
diretor-geral da PF na época, Rolando Alexandre de Souza.
Após esses encontros, no dia 9 de julho, o diretor de Combate ao Crime Organizado
da PF, Igor Romário, transferiu, por ordem de Souza, a investigação do setor de
Denisse para o Sinq (Serviço de Inquéritos), órgão que também funciona na sede
da PF. A direção apresentou como justificativa oficial a de que apenas o Sinq
poderia conduzir investigações (o SPE, onde Denisse estava lotada, é um setor
administrativo e de planejamento).
Outro lado
O diretor-geral da PF da época, Rolando Alexandre de Souza, afirmou que
a saída de Denisse do caso não teve relação com o pedido de buscas feito por
ela. "Alexandre de Moraes (...) é o presidente do inquérito e, se existe
alguém que não admitiria qualquer interferência, seria ele", disse.
"Se ele não se importou com base em tudo que foi dito e explicado, o que
dirá os outros", continuou.
A pedido da corporação, a policial fez um relatório parcial das
investigações que incluía, também, a informação sobre a sua saída. O documento
foi remetido ao relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes. Mas já
existia uma ordem do magistrado para que ela e outros delegados fossem mantidos
no inquérito dos atos antidemocráticos. As buscas, porém, nunca foram
realizadas.
Souza disse que, apesar de o primeiro despacho ordenar a troca de setor
e de delegados do caso, Denisse conduziria as investigações da Operação Lume,
mas em outro setor. "Ela iria junto: o inquérito iria para o Sinq, com ela
junto", afirmou. "Só que ela não quis ir pro Sinq",
complementou.
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