(Foto: Ricardo Stuckert)
Novos crimes de responsabilidade cometidos
por Jair Bolsonaro colocam instituições diante do dilema de punir ou não um
criminoso
31 de julho de 2021
(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro provoca um "teste de
estresse" para as instituições democráticas do Brasil com suas acusações
sem provas contra o sistema eleitoral brasileiro e deve levar essa narrativa
até a eleição presidencial do ano que vem, na avaliação de analistas políticos
ouvidos pela Reuters nesta sexta-feira.
Ao mesmo tempo, a insistência do presidente neste discurso de fraude
mostra que tanto Bolsonaro quanto o governo que lidera estão acuados, apostando
em uma retórica, como a adotada em transmissão nas redes sociais na noite de
quinta, que na prática antecipa um eventual discurso de derrota eleitoral.
"De novo ele (Bolsonaro) antecipa esse processo eleitoral, fala que
é possível haver o não reconhecimento do processo eleitoral, que é o maior
desafio que uma democracia pode enfrentar", disse à Reuters Leonardo
Barreto, cientista político e diretor da Vector Análise.
"Ele gera um teste de estresse institucional que vai até o processo
eleitoral e tem, no pior cenário, o não reconhecimento de um resultado por um
candidato que possa ter 30% dos votos. Acho isso um evento muito relevante para
a estabilidade do processo político brasileiro", acrescentou.
Apesar de prometer que apresentaria provas de fraudes no sistema
eletrônico de votação na transmissão que fez na quinta, Bolsonaro não só não as
apresentou --afirmando com todas as letras que não tinha provas, mas
"indícios"-- como também recorreu a alegações infundadas de
irregularidades que já circularam no passado e já foram rechaçadas.
Ele também aproveitou para fazer uma série de ilações contra o
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, ao
mencionar que contribuiu para a retomada dos direitos políticos pelo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e teria interesse em uma vitória do
petista, em mais um ataque contra o Judiciário, que se tornou uma constante.
Na avaliação dos analistas ouvidos pela Reuters, Bolsonaro volta suas
baterias contra o Supremo Tribunal Federal (STF) num momento em que conta com
uma blindagem no Congresso Nacional, após apoiar a eleição de Arthur Lira
(PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados e de colocar o líder do centrão,
senador Ciro Nogueira (PP-PI), no comando da Casa Civil.
Parece estar blindado também no front do Ministério Público, já tendo
encaminhado ao Senado a indicação para recondução do procurador-geral da
República, Augusto Aras, que tem se posicionado a favor do presidente, para um
novo mandato de dois anos.
"Hoje, o melhor custo para ele é atacar o Supremo", disse o
professor e cientista político do Insper Carlos Melo. "Onde ele não tem
blindagem? No Supremo. O Supremo não pede impeachment, o Supremo não abre
inquérito, o Supremo não tem instrumentos para reagir contra o presidente da
República como a Câmara tem e como a PGR tem... O Supremo contém a ação dos
outros Poderes, mas ele não consegue agir contra", explicou.
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