(Foto: Webysther/CC | Alan Santos/PR)
O jornal, que apoiou o golpe contra Dilma
Rousseff e apresentou uma falsa neutralidade em 2018, reconhece agora que o
governo Bolsonaro fracassou por completo: "O malogro de seu governo se
deve ao despreparo e à indolência, não a sabotagens e conspirações
imaginárias"
25 de agosto de 2021
O jornal Folha de S.Paulo desistiu em definitivo de Jair Bolsonaro e
resolveu reconhecer o fiasco de seu governo. "Decorridos dois terços do
governo Jair Bolsonaro, o saldo é um fracasso inegável e, tudo indica,
irreversível", afirma editorial da
família Frias. Em 2016, o jornal foi um apoiador entusiasmado do golpe contra
Dilma Rousseff e, em 2018, apresentou uma suposta "neutralidade" que
teve como objetivo atacar de maneira brutal Fernando Haddad.
Num editorial em 29 de setembro de 2018, sob o título "A hora do
compromisso", o jornal publicou: "A agressão constante a decisões
legítimas da Justiça e do Congresso, bem como o recurso sistemático à corrupção
nas gestões petistas, ainda não foi objeto de autocrítica da legenda nem de seu
candidato". Fez críticas a Bolsonaro, mas voltou-se, com esperança, para o
presidente que agora abandona: "É o momento de corrigir, em linguagem
clara, esse conjunto de afrontas ao patrimônio civilizatório".
Os ataques continuados ao PT e a Haddad fizeram com que o ex-candidato
desistisse de ser colunista do jornal em 9 de janeiro deste ano. Ponderou
Haddad sobre a situação em artigo de despedida de sua função: "Quando fui
convidado para ser colunista da Folha, relutei em aceitar. Na época, me
incomodava o posicionamento do jornal no segundo turno das eleições de 2018.
Pareceu-me uma falsificação inaceitável um órgão de imprensa que apoiou o golpe
militar de 1964 equiparar, em editorial, um professor de teoria democrática a
uma aberração saída dos porões da ditadura. Àquela altura, a Folha já sabia que
a família Bolsonaro era autoritária e corrupta, mas entendia que a agenda
econômica neoliberal de Paulo Guedes compensaria o risco. Teria sido mais
correto assumir isso publicamente",
Sobre Bolsonaro, no editorial desta quarta-feira, a Folha continua:
"Não se vê em Brasília pensamento, liderança ou mera disposição para levar
adiante uma agenda que permita ao país chegar ao final de 2022 em condições
melhores que as herdadas pelo mandatário".
O jornal destaca que "não houve nova política, muito menos combate
à corrupção". "O centrão ganhou protagonismo inédito, a
Procuradoria-Geral perdeu em autonomia e a Polícia Federal teve dirigentes
trocados ao sabor das preocupações do Planalto com aliados e familiares",
diz.
"O malogro de seu governo se deve ao despreparo e à indolência, não
a sabotagens e conspirações imaginárias. A perspectiva de derrota nas urnas,
que desencadeou toda a atual gritaria golpista, decorre tão somente da
constatação do óbvio pelo eleitorado".
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