Bolsonaro e Paulo Skaf; (Foto; REUTERS;Adriano Machado;
Alan Santos/PR; Reprodução)
1º de Setembro de 2021
Só falta agora um manifesto assinado por grileiros e milicianos em
defesa da harmonia entre os poderes. Uma declaração pública conjunta que
expresse convergência de ideias e interesses e de unidade inabalável num
momento difícil.
O poder de destruição de Bolsonaro desmoralizou até os manifestos. Hoje,
uma nota com a ambição de provocar comoções cívicas pode, ao invés de
fortalecer os signatários, reforçar o sentimento de desordem em que todos se
meteram.
Grileiros, banqueiros, garimpeiros, empresários grandes e pequenos,
vendedores de vacinas e de cloroquina, latifundiários, contrabandistas de
madeira, assassinos de índios. Todos convergiram com Bolsonaro para o cenário
que tentam consertar com notinhas.
A situação é tão esdrúxula que uma nota bloqueada, como essa da Fiesp
com os banqueiros, acaba tendo mais repercussão quando vazada do que teria se
tivesse sido solenemente divulgada.
Alguém ditou a nota a um estagiário da Fiesp, com a ideia colegial de
usar a Praça dos Três Poderes para falar de harmonia e independência.
Uma notinha que poderia ter sido escrita numa mesa de bar por cinco
bêbados, mas todos mais valentes do que a Fiesp e suas entidades parceiras.
A Fiesp e os banqueiros, calados pelo poder de censura do gerentão da
Caixa, deveriam ter chamado dois ex-presidentes do Banco Central, Armínio Fraga
e Pérsio Arida, para que escrevessem a nota.
Fraga e Arida transmitem no que têm dito o sentimento dos liberais de
fato constrangidos. Os dois sabem que Bolsonaro não é apenas um aprendiz de
déspota, sem condições de ser um déspota completo, é um destruidor do país para
muito além das questões econômicas.
Bolsonaro poderia ter sido mais um dos tantos autoritários dedicados a
degradar relações humanas, instituições, ciência, produção, emprego, salários e
sonhos, mas com um mínimo de racionalidade como gestor público.
Poderia ter sido uma aberração humana com habilidades e competências.
Mas Bolsonaro não é apenas um disseminador de ignorância, ódio e violência, é
um incapaz. Isso não aparece nas notinhas da Fiesp e do agronegócio.
Bolsonaro foi sustentado por esse liberalismo arrependido, mas ainda com
medo de enfrentar a criatura. É uma debandada tardia. Empresas e mercado
financeiro achavam que teriam reformas, privatizações e degradação dos serviços
públicos, e assim o liberalismo urbano bacana tornou-se cúmplice de Bolsonaro
ao lado do Brasil arcaico.
Não há, por índole e por intenções expostas e encobertas, quase nada que
possa distinguir empresários e grileiros, banqueiros e garimpeiros, nos grupos
de apoio a Bolsonaro. Todos carregaram Bolsonaro até aqui, indiferentes ao que
ele faz com saúde pública, educação, meio ambiente, empregos, inflação.
O liberalismo brasileiro, que agora cede às pressões do capataz da
Caixa, é incapaz até de produzir notinhas quando anuncia que está saltando
fora. Porque ainda teme Bolsonaro e os militares e deve favores a Paulo Guedes.
Os líderes empresariais das notinhas censuradas por ordem de Bolsonaro
só se diferem dos grileiros porque os grileiros talvez não se submetessem às
pressões do gerentão da Caixa.
Os empresários, o mercado, os grileiros e os milicianos trouxeram
Bolsonaro juntos até aqui. O defensor de torturadores, como observa Pérsio
Arida, talvez continuasse contando com apoios, se fizesse com competência o que
o mercado queria.
Poderia continuar como genocida, se a normalidade da economia
compensasse os crimes cometidos pela família, pelos coronéis das facções das
vacinas e pelas fábricas de fake news e de manifestações pró-golpe.
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