Bastidores do documentário (Foto: Reprodução)
Joaquim de Carvalho publica documentos do
inquérito e revela bastidores do documentário que escancarou as inverdades da
narrativa oficial sobre o episódio que levou Bolsonaro à Presidência da
República
13 de setembro de 2021
Joaquim de Carvalho é colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter
do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe,
1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail:
joaquim@brasil247.com.br
...
Em julho deste ano, após conversarmos sobre um projeto de reportagem,
disse a Leonardo Attuch, do 247, que a ideia de investigar o episódio da facada
em Juiz de Fora não daria em nada, já que todas as evidências divulgadas
levavam à conclusão de que houve, sim, um atentado contra Jair Bolsonaro. Dois
meses depois e após dezenas de entrevistas e análise de peças do processo, não
tenho receio de dizer que o inquérito sobre a facada precisa ser reaberto, já
que há indícios fortíssimos de que houve fraude. A Polícia Federal não
considerou a hipótese plausível de que ocorreu em Juiz de Fora um auto
atentado, uma armação para interferir na campanha eleitoral.
Com a compromisso de que o 247 publicaria o resultado da minha apuração,
mesmo que ela confirmasse a versão oficial, fui a Juiz de Fora, Montes Claros,
onde Adélio Bispo de Oliveira nasceu e se criou, e Florianópolis, onde ele
morava até dez dias antes da facada ou suposta facada. Em Juiz de Fora, ao
conversar com pessoas envolvidas na investigação, minha primeira surpresa foi
descobrir que a faca apresentada como o instrumento do crime tinha percorrido
um caminho tortuoso naquele 6 de setembro de 2018 antes de chegar à mesa do
delegado Rodrigo Morais, e de ser encaminhada para a perícia.
Ela não foi apreendida com Adélio, mas entregue à Polícia Federal por um
PM do serviço reservado e por um paramédico vinculado a uma rede de militares e
de seguranças que compunham uma espécie de célula bolsonarista na cidade, um
troço bem esquisito. Renato Júlio dos Santos é o nome do paramédico. Ele deu
depoimento à Polícia Federal e, quase três anos depois, eu o localizei por
telefone. Depois de atender à minha ligação e ser informado do assunto, pediu
dez minutos para estacionar o carro e não atendeu mais às minhas ligações nem
respondeu às minhas mensagens por WhatsApp.
Mas eu consegui entrevistá-lo, depois de ficar três horas de plantão em
frente à sua casa, em um condomínio para pessoas de baixa renda no Jardim de
Alá, periferia de Juiz de Fora. Uma seguidora da TV 247 me reconheceu e
comentou que ali perto um jovem tinha sido assassinado por traficantes alguns
dias antes. Era, portanto, um lugar perigoso, mas, depois de interfonar para a
casa dele, sem sucesso, e também para vizinhos, ele acabou me retornando, para
uma conversa gravada de quase uma hora, que fiz no próprio carro.
Renato fez um relato que, mais tarde, eu descobriria ter
inconsistências.
Ele disse ter pisado em cima de uma faca no calçadão da rua Halfeld,
local do crime, depois que Adélio tinha sido levado por seguranças voluntários
de Bolsonaro para o segundo andar de um prédio onde funcionavam (e funcionam)
um chaveiro e uma escola profissionalizante. Em vez de entregar o objeto para a
polícia — havia muitos ali, tanto federais quanto militares e civis, alguns à
paisana, outros não —, ele deixou com um vendedor de frutas que trabalha num
carrinho instalado na esquina.
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