Por Fernando
Brito | 8 de Setembro de 2021
Quase 24 horas
depois de o presidente da República tem mandado o presidente da Suprema Corte
“enquadrar o seu” ministro e já 16 horas após , na Paulista, ter ameaçado virar
a mesa do que a Câmara decidiu sobre a contagem manual dos votos, Justiça e
Parlamento permanecem quietos.
Dizem, segundo
o que fazem cochichar à mídia , que querem evitar o “clima de briga de bar”.
A única
consequência real que tem-se, até agora, é a suspensão das sessões do Senado de
hoje e amanhã. Vale dizer que os senadores ficam, institucionalmente, mudos até
a semana que vem. Na prática, a reação ante quem quer fechar o Senado é este
fechar-se espontaneamente.
Se a alegação
de “razões de segurança” procedessem, muito mais razões haveria para não haver
reunião do STF.
E lá no
Supremo, depois de uma longa tertúlia em videoconferência, deixou para hoje,
numa nova fala de Luiz Fux – já o havia feito mo início de agosto e na semana
passada – onde se dirá que o Supremo Tribunal Federal, depois de ameaças e,
agora, de um sonoro tapa na cara.
Arthur Lira,
pessoalmente afrontado por um Presidente que a ele tinha prometido não voltar
ao questionamento da lisura das eleições, passa o dia buscando formas de não
cumprir seu deve de deixar prosseguir um processo de impedimento do presidente
da República.
Sejam ou não
duras as manifestações que venham (ou não) ser feitas, a falta de velocidade
enche-as de covardia e esvazia-lhes a eficácia.
Infelizmente,
o único a reagir incontinente, como não poderia deixar de ser diante da
inacreditável afronta presidencial, foi um aposentado, Celso de Mello, que não
tinha dever institucional, mas o tinha cívico e jurídico.
Razão completa
tem Vinícius Torres Freire, na Folha de hoje, ao dizer que a elite ainda é
conivente com Bolsonaro:
Bolsonaro
continua a tocar o seu projeto sem que seja impedido de maneira decisiva, um
sucesso relativo. Normalizou a discussão de golpe. Sujeitou o país à tutela
militar: gente da política e dos Poderes vai até os quarteis perguntar se vai
haver golpe.
Na prática,
conseguiu fazer com que a maior parte da elite política e econômica aceitasse
seu programa de destruição do “sistema”, elite que apenas se moveu diante da
ameaça explícita e reiterada do golpe de Estado. Até agora, a degradação
selvagem do país havia sido tolerada: saúde, educação, desumanidade,
preconceito, cafajestagem, “rachadinha”, administração comezinha do governo,
desprezo internacional, em parte e por alguns justificada pelos 30 dinheiros de
meia dúzia de “reformas”, muitas delas porcas.
Não é
possível, como aponta Freire, normalizar o golpismo, como se ele fosse tema a
ser tranquilamente discutidos e objeto de ponderação.
Como em todo
estupro, também os constitucionais têm de ser tratados com o “não é não.
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