Aloizio
Mercadante e Bolsonaro discursando na ONU (Foto: Ricardo Stuckert | Marcos
Corrêa/PR)
"Assim, chegaremos nas eleições de 2022 com o Brasil à
deriva, completamente devastado por um novo retumbante fracasso do
neoliberalismo", escreve o ex-ministro Aloizio Mercadante
24 de outubro
de 2021
Aloizio
Mercadante é economista, professor licenciado da PUC-SP e Unicamp, foi Deputado
Federal e Senador pelo PT (SP), Ministro Chefe da Casa Civil, Ministro da
Educação e Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação
...
O desgoverno
Bolsonaro segue ladeira abaixo, perdendo mais um dos pilares de sustentação. É
público e notório que Bolsonaro nunca teve compromisso partidário, jamais
discutiu ou se empenhou em construir um projeto estratégico para o país, sempre
agrediu e menosprezou a democracia e montou o governo aglutinando alguns
núcleos sem qualquer compromisso programático, que depois de dois anos e meio
de desgoverno estão esfacelados e envergonhados.
O núcleo
obscurantista, terraplanista e olavista apresentou ao país aquele que é
considerado por muitos especialistas o pior ministro da Educação da história.
Também é responsável pelo completo isolamento internacional e pela
desmoralização da nossa diplomacia. Apesar disso, este núcleo ainda resiste na
figura recolhida da ministra Damares, mas se encontra totalmente acuado pelas
investigações do inquérito das fake news, relatado pelo ministro Alexandre de
Moraes no Supremo Tribunal Federal.
O núcleo lavajatista,
importante cabo eleitoral do bolsonarismo e que teve como principal
representante o ex-juiz Sérgio Moro, já se encontra afastado do governo. A
suspeição e a parcialidade de Moro, reconhecidas pelo Suprema Corte, somadas às
mensagens da Vaza Jato, que expuseram as entranhas e as ilegalidades da
manipulação judicial que condenou Lula, feriram de morte a credibilidade deste
núcleo perante a opinião pública.
Os militares,
mais um dos pilares de sustentação de Bolsonaro, permanecem no governo ocupando
mais de 7 mil cargos. Entretanto, depois do vexame do desfile intimidatório em
favor do voto impresso, do fiasco dos atos golpistas do último 7 de setembro e
da tragédia que foi a gestão Pazuello no Ministério da Saúde, há um claro recuo
das Forças Armadas, que tentam reduzir a exposição para conter o profundo
desgaste institucional.
A bola da vez
é o núcleo neoliberal. O superministro da Economia, que acumulou as funções dos
ministérios da Fazenda, da Previdência e Trabalho, da Indústria e Comércio e do
Planejamento, Orçamento e Gestão, entrega os piores indicadores econômicos em
décadas. Levantamento da OCDE com 42 países
apontou que o Brasil é o 3º pior em desemprego, com mais de 20 milhões de
desempregados, e a 4ª pior inflação, um acumulado e 10,25%. O FMI projeta um
crescimento de 4,9% para a economia mundial em 2022, enquanto o Brasil
apresenta pífios 1,5%, sendo que alguns analistas estimam que fiquemos ainda
abaixo disso.
Além disso, o
furo ao teto de gastos, um dos grande bastião da ortodoxia fiscal defendida por
Guedes, explode da pior forma possível, com a substituição de um programa de
êxito reconhecido internacionalmente, que é o Bolsa Família, por um puxadinho,
uma completa irresponsabilidade gerencial do posto Ipiranga, que assiste ao
desmonte de sua equipe, com o pedido de demissão de quatro secretários. O rombo
será de R$ 110 bilhões, com uma pedalada gigantesca dos precatórios, jogando para
o futuro governo uma bomba fiscal de efeito retardado, mas assegurando recursos
significativos para seguir o fisiologismo parlamentar e paliativos no
enfrentamento da crise. Para piorar, Guedes terá ainda que ir ao Congresso
Nacional explicar o inexplicável, isso é: os US$ 9,5 milhões em um paraíso
fiscal.
Nesse cenário
gravíssimo, de deterioração da economia e de explosão da fome e da miséria,
resta a Bolsonaro um núcleo familiar deteriorado e pressionado por escândalos,
como os casos das rachadinhas e do financiamento ilegal das fake news.
A base
fisiológica de sustentação do governo segue confortavelmente alimentado pelas
emendas impositivas para impedir que o presidente responda pelos nove graves
crimes, dentre eles crimes de responsabilidade, imputados a ele pela CPI da
Covid.
Assim,
chegaremos nas eleições de 2022 com o Brasil à deriva, completamente devastado
por um novo retumbante fracasso do neoliberalismo. Por isso, precisamos olhar
para os caminhos apontados por importantes nações que abandonam o
neoliberalismo, como, por exemplo, o Plano Biden nos Estados Unidos e o Nova
Geração na União Europeia.
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