Sergio Moro; Foto; Nelson Almeida; AFP
3 de novembro de 2021
Ao chegar ao Brasil para iniciar os movimentos para a eleição de 2022,
Sérgio Moro foi recepcionado com dois editoriais ácidos do Estadão, jornal de
visão extremista que já foi desbragadamente entusiasta e defensor da Lava Jato.
Em pleno dia de finados [2/11], o editorial “A perigosa permanência do
lavajatismo” defende o sepultamento definitivo da Lava Jato, cadáver putrefato que
só sobrevive por oportunismo no imaginário de fanáticos antipetistas – no MP,
no judiciário, na PF, no partido dos generais e congêneres de direita e
extrema-direita.
“O fim da Lava Jato não é nenhum problema […], era passada a hora de a
famosa operação acabar”, reconhece o Estadão, alertando que “A Lava Jato chegou
ao fim, mas – eis ponto que merece ser destacado – continua existindo o que se
pode chamar de espírito lavajatista. Segue viva uma específica mentalidade que
vai muito além do princípio republicano”.
Para o jornal, “essa visão pretende justificar uma conclusão
inteiramente antirrepublicana. A de que, para combater a corrupção, seria
permitido e autorizado utilizar todos os meios disponíveis, também os ilegais”.
De acordo com tal espírito lavajatista, “para combater ilegalidades, seria
possível cometer novas ilegalidades”.
Numa crítica à reação ultra corporativa de procuradores e suas entidades
contra a PEC nº 5/2021 que aperfeiçoa o controle público sobre atos ilegais de
integrantes do Ministério Público, o editorial critica que esta casta
burocrática “defende uma autonomia irrestrita do Ministério Público; a impedir
qualquer controle sobre eventuais ilegalidades de procuradores”.
Na contramão do apoio incondicional que consignou à Lava Jato durante a
caçada criminosa a Lula e ao PT, agora o Estadão transparece um espasmo de
compromisso com a legalidade e a democracia. “Outra coisa, que causa muitos
danos e injustiças; pois autoriza o uso arbitrário e abusivo do poder estatal é
pretender que; em razão do juízo da gravidade sobre a corrupção, agentes da lei
possam atuar impunemente fora da lei. Ninguém, nem mesmo o Ministério Público,
está acima da lei”, constata o jornal, com atraso de mais de 7 anos.
No editorial desta 4ª feira [3/11] o jornal afirma que “é um grave
equívoco transformar as eleições presidenciais em disputa de quem grita mais
alto contra a corrupção”.
Embora não cite Sérgio Moro, fica evidente que é para ele que a mensagem
se destina. Não só pela retórica monotemática de falso combate à corrupção.
Como também pela visão tosca que este personagem provinciano e torpe tem sobre
a vida, o país e o mundo.
“A campanha eleitoral precisa ser um espaço efetivo de diálogo e debate
sobre as propostas de governo dos candidatos”, afirma o Estadão.
“Além de despistar o eleitor das reais questões que ele terá de escolher
com seu voto na urna”, a retórica hipócrita de falso combate à corrupção
“contribui para que candidatos desprovidos de um mínimo programa de governo
[caso do Moro] – que não deveriam ter nenhuma relevância no cenário eleitoral –
apareçam aos olhos do público como nomes viáveis politicamente”, afirma.
O editorial também questiona “por que será que os candidatos populistas
falam tão pouco de políticas públicas de saúde, educação e economia. Por
exemplo, e falam tanto de combate à corrupção e de moralidade e bons
costumes?”. E conclui: “Infelizmente, a velha tática diversionista tem
funcionado, como mostram as eleições de 2018”.
A opinião do Estadão, revelada em dois editoriais consecutivos, não pode
ser tomada como sinal de súbita conversão deste jornal oligárquico, racista e
autoritário à democracia e à civilização.
É preciso manter viva a memória sobre o engajamento pleno deste órgão de
imprensa na escalada do Estado de Exceção que culminou na destruição do país
pela Lava Jato, na derrubada da presidente Dilma, no processo farsesco da
prisão do Lula e no ascenso fascista-militar com Bolsonaro e o partido dos
generais.
É razoável supor-se que a manifestação do Estadão possa ter apenas uma
motivação eleitoral pragmática. Pois é crescente o entendimento de que a
hipócrita retórica Moro-lavajatista – e de generais como Santos Cruz, Villas
Bôas e quejandos – já não terá a mesma eficácia para enganar o povo outra vez
na eleição de 2022.
Continua, portanto, a saga das oligarquias em busca de algum anti-Lula
de estimação. Na falta de alguém viável para o papel, em 2022 o Estadão não
hesitará em fazer outra vez “uma escolha muito difícil” a favor da aberração
humana que atende pela alcunha de Jair.
0 comments:
[ Deixe-nos seu Comentário ]
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor