Por Fernando Brito | 05 de Dezembro de 2021
Jair Bolsonaro e Sergio Moro parecem estar escrevendo ao estilo daqueles
“memes” que brincam, dizendo que na briga entre ambos, torce-se pela briga.
O Globo dá em manchete em seu site o que já se viu ontem acontecer:
Bolsonaro elege Moro como alvo preferencial e reconhece que ex-juiz pode tirar
votos.
A primeira parte do título é notícia, porque significa uma mudança
estratégica, porque significa de duas uma (ou mesmo ambas): que não vinha mais
sendo o suficiente o tal antilulopetismo que é o chiclete que andava na sua
boca e na de todos os candidatos ditos de Terceira Via e que o ex-juiz oferece
à mídia e ao “mercado” um “bolsonarismo chique”, palatável.
Mas a segunda parte, até por ser óbvia, deve fazer pensar.
Evidente que as intenções de voto de Moro vieram – e só poderiam vir –
dos bolsonaristas que ficaram órfãos de seu “Mito”, mas não do que ele
representava e representa.
Mas nestas elites, Bolsonaro dá como perdidos, no primeiro turno, os
senhores do capital e os “punho de renda” em geral. O que ele precisa, agora, é
marcar como maldito o ex-juiz, para conseguir que ele não penetre nas camadas
mais pobres da população – onde quase nada tem – e lhe devore nacos do
eleitorado no primeiro turno, fazendo o que de melhor sabe fazer: uma campanha
de ódio.
Moro trabalha num universo emocional muito próximo, mas não igual. Seu
combustível é o ressentimento, o rancor e a frustração, varas com que cutuca a
árvore bolsonarista e de onde lhe cai uma safra de personagens que não
conseguiram permanecer no convés da insensata nau do ex-capitão. Seus
náufragos, já se disse aqui.
Aí está a diferença: Bolsonaro não precisa dos atuais votos de Moro para
chegar ao 2° turno e, neste, eles lhe virão. Já Moro precisa desesperadamente
dos votos que são hoje de Bolsonaro para ir à disputa final e, nela,
incompatibilizar-se totalmente com eles significa perder grande parte do que
deveria ser a transferência dos votos de direita.
Na recente pesquisa Atlas Político, Moro só teria, na simulação dos
votos em um segundo turno contra Lula, 46% dos votos de quem escolheu Jair
Bolsonaro em 2018.
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