(Foto: (Foto: Reuters | Reprodução | Reprodução | Agencia
Brasil))
"Em qualquer tribunal de direitos
humanos, o que o governo brasileiro está fazendo seria julgado crime",
escreve a jornalista Helena Chagas
20 de dezembro de 2021
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o
Jornalistas pela Democracia
...
O Brasil registrou mais de 3.000 mortes de crianças e adolescentes por
Covid. Entre as que não morreram, muitas tiveram sequelas, algumas graves e
debilitantes. Não é preciso fazer pesquisa para saber que o sonho de cada mãe e
avó (já vacinadas) no Brasil hoje é dar imunidade a seus filhos e netos entre
cinco e 11 anos. Boa parte delas, entre as quais me incluo, trocaria de bom
grado sua imunização pela delas.
Mas Bolsonaro-Herodes não quer vaciná-las - pior que isso, ao criar
obstáculos e impedimentos através de seu Ministério da Saúde, não quer dar a
suas famílias o direito de decidir se vacina ou não. Em qualquer tribunal de
direitos humanos, o que o governo brasileiro está fazendo seria julgado crime.
Esse crime está sendo acompanhado de outros, entre os quais as ameaças e
intimidações aos dirigentes da Anvisa que aprovaram a vacinação infantil. O que
nos leva novamente à perplexidade: em qual país do mundo ouviu-se falar de
funcionários públicos que pediram proteção e garantias de vida à Polícia de
Estado contra seu próprio presidente da República?
Parece piada: o pessoal da Anvisa, sem ter a quem mais se queixar, está
pedindo proteção à PF controlada por Bolsonaro, que dificilmente vai prender os
bolsominions responsáveis pelas ameaças. Se o Supremo Tribunal Federal, que na
era Bolsonaro começou a ter inevitáveis funções executivas de governo, não
entrar de sola no caso, nada feito. Não teremos vacina infantil e nem proteção
para os dirigentes da Anvisa, que mostraram coragem e dedicação a suas funções
Acima de tudo, o episódio nos assusta pela simples constatação de que
nós, brasileiros, estamos absolutamente desprotegidos contra os desmandos do
Estado, representado hoje por um governante que dispensa adjetivos. É um
sentimento que as novas gerações não conhecem - e que nós, as mais antigas, não
gostaríamos de recordar.
O episódio Anvisa, e todas as perseguições que o governo Bolsonaro vem
promovendo contra os que cumprem seu dever como servidores do Estado, trazem
lembrança de outras perseguições e do medo infundido aos cidadãos de bem nos
tempos da ditadura militar. A pior sensação talvez seja a de impotência e a de
não ter a quem recorrer. Resta à turma da Anvisa se queixar ao bispo - ou à
Polícia Federal do Paraguai, quem sabe.
Fica a lição para quem ainda pensa em apoiar a reeleição desse estado de
coisas. Nossas crianças merecem vacina e democracia.
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