(Foto: Reprodução)
"Bolsonaro, Mamãe Falei e a extrema
direita mundial descobriram que submeter vastos contingentes à hipnose do
fascismo são tarefas fáceis", diz Moisés Mendes
6 de março de 2022
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora
Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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A viagem do deputado Mamãe Falei à Ucrânia ficaria na antologia do
folclore da guerra, se não fosse a ostentação do macho incontrolável.
A viagem não foi a farra macabra de um sujeito que se revela farsante
até como mercenário. A excursão e seus desdobramentos são da essência da
degradação da política brasileira.
Bolsonaro, os filhos de Bolsonaro e todos os que estão no entorno do
bolsonarismo cometem atitudes só aparentemente absurdas. Porque tudo para eles
é fácil. O brasileiro é considerado fácil.
Mamãe Falei foi a Ucrânia mentir que fabricaria coquetéis Molotov para
enfrentar os russos, assim como Bolsonaro disse ter ido a Moscou para assegurar
para o agro-é-pop que haveria adubo para sempre.
Para garantir o abastecimento de adubo, Bolsonaro levou 32 militares e o
filho Carluxo a uma conversa com Putin. E boa parte da imprensa se dedicou a
explicar a lógica da viagem de Bolsonaro, assim como Mamãe Falei tentou dar
sentido à viagem à Ucrânia.
A barbeiragem cometida pelo amigo de Sergio Moro ao espalhar o áudio
entre membros da sua facção é apenas o acidente no roteiro.
Era previsto que ele sairia a alardear que as mulheres estariam lá
aguardando seu retorno, depois da guerra. Aí elas iriam ver o que é o machão
brasileiro.
Mas não era previsto que alguém vacilasse como macho e vazasse o áudio,
talvez um macho inseguro, sem as mesmas convicções do restante da turma.
Bolsonaro também acha que o eleitor brasileiro é fácil. Antes do segundo
turno de 2018, ele anunciou que mataria os inimigos na ponta da praia. Ele era
ali um Mamãe Falei. O eleitor era fácil e o inimigo também.
Bolsonaro já mostrou que faz o que quiser com o eleitor da sua base.
Tudo com facilidade. É fácil ser negacionista e sabotar a imunização de velhos
e crianças e continuar com 25% de apoio, porque é fácil enganar.
Os brasileiros são fáceis para Bolsonaro, para os militares, o centrão,
os milicianos. Não porque sejam pobres, como disse Mamãe Falei das mulheres
ucranianas, até porque muitos dos fáceis brasileiros são ricos. Simplesmente
porque são fáceis.
Bolsonaro, Mamãe Falei e a extrema direita mundial descobriram que
convencer, assumir controles e submeter vastos contingentes à hipnose do
fascismo são tarefas fáceis. Pessoas em desalento se tornaram presas fáceis, ou
não teriam levado Bolsonaro ao poder.
Se em algum momento a engrenagem falha, é só porque Mamãe Falei faz
parte da ala da chinelagem e mexeu com o poder das mulheres.
Se Bolsonaro tivesse dito algo parecido com o que o deputado amigo do
ex-juiz suspeito disse, não aconteceria nada. Seria apenas mais uma fraquejada
ou a livre manifestação de quem, segundo o genocida, não estupra mulher que não
merece ser estuprada.
Bolsonaro foi eleito como incentivador de estupros. Nada é difícil para
o sujeito, em qualquer área. Foi fácil para a estrutura montada por ele levar
adiante as quadrilhas da pandemia, que intermediaram os negócios da cloroquina
e estavam prontas para vender vacinas.
Nunca foi tão fácil para o fascismo agir com a conivência de setores do
empresariado, de um jeito que não existiu nem na ditadura.
A elite empresarial é dócil e fácil. Os banqueiros são fáceis. O mercado
financeiro é facílimo. Os liberais brasileiros nunca foram tão fáceis. E os
militares facilitaram tudo.
Com um Ministério Público fácil, tudo fica ainda mais facilitado para
proteger os filhos e os milicianos que protegem os filhos.
O sistema de Justiça é fácil para o bolsonarismo. Mas as mulheres
brasileiras não são fáceis. As mulheres vão derrotar a extrema direita no
Brasil.
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