A declaração de Jair Bolsonaro após o
mega-reajuste do preço dos combustíveis serve – e nem tanto – para os
seguidores do “curralzinho”
Por Fernando Brito | 11 de Março de 2022
O fato objetivo é que, ao retardar as decisões sobre reajustes nos
preços dos combustíveis que, há três semanas, eram evidentes, Jair Bolsonaro
perdeu a chance de que eles entrassem na conta da guerra no Leste Europeu.
Agora, o aumento brutal decretado de uma só vez vai cobrar um preço
muito maior, porque desorganiza completamente os custos de uma série de setores
econômicos, com uma adição de custos que não tem como ser absorvida pelas
empresas de qualquer setor da economia.
Porque soma ao aumento real de custos uma “liberação geral” de reajustes
que cria, para usar uma expressão popular, um “bundalelê” de valores em que
tudo entra nesta conta.
Já vivemos isso no segundo semestre do ano passado com o reajuste da
energia elétrica, retardado no tempo, que – em taxa muito menor, 8%, contra de
agora, 19% na gasolina e de 25% no diesel, empurrou para cima um conjunto de
preços com e sem relação com a eletricidade,
Desta vez, porém, o impacto será ainda maior. E mais rápido, porque a
conta de energia leva um mês para chegar e o aumento do combustível cai de
imediato ou, no máximo, no tempo de reabastecer o veículo.
O “vale-isso”, “vale-aquilo” que o Senado aprovou, ainda irá para a
Câmara e depois, depende de uma complicada regulamentação. Mas os preços não
esperarão isso e nem se reduzirão se e quando acontecer.
Esta madrugada, milhares de pequenas caminhonetes e caminhões estarão
levando produtos para o mercado. Com o novo preço de gasolina e de diesel.
Amanhã, o frete de milhões de produtos entregues em domicílio, idem. E os que
vão no transporte pesado – produtos industriais e agrícolas – já contratarão o
frete ao menos 10% mais caro, senão mais.
Às nove da manhã, todos estarão impactados por uma inflação de fevereiro
que estalou para índices maiores que os 0,85 do mesmo mês do ano passado. E as
projeções para a de março, agora, ficarão acima de 1%, saltando a acumulada em
12 meses para perto dos 12%.
Por enquanto, porque é preciso esperar o quanto o círculo concêntrico de
transmissão deste míssil inflacionário vá expandir suas ondas de choque.
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