Fernando Brito | 19 de Julho de 2022
Em todos os jornais, diz-se que os embaixadores, diante do show de Jair
Bolsonaro sobre um delirante complô de ministros do TSE e do STF para fraudarem
as eleições, viram no espetáculo um ensaio trumpista do presidente brasileiro
para insurgir-se contra o resultado das urnas.
Assim é, mas com uma e decisiva diferença: Donald Trump não tinha o
apoio dos chefes militares dos EUA e, por isso, não surgiu uma quartelada para
apoiar os selvagens do Capitólio, ainda que, como revelaram as investigações
posteriores, tenha havido algum retardo no emprego da Guarda Nacional para
deter a tentativa de golpe arruaceira que seus adeptos promoveram.
Aqui, ao contrário, o que se vê é uma inadmissível subversão da ordem
democrática promovida por eles, ao servirem-se de uma suposta “preocupação
tecnológica” para, na prática, prestarem-se a serem exibidos como “leões de
chácara” da ordem bolsonarista, não a republicana.
E, agora, exibirem-se internacionalmente como tal, quando Bolsonaro se
apresenta como sendo ele próprio sendo “as Forças Armadas”. O “nós”, repetido
profusamente por Bolsonaro ao referir-se a elas, não deixa dúvidas a ninguém e,
muito menos, aos altos oficiais das Armas.
Se o alto comando das Forças Armadas entende que a chefia suprema das
Forças Armadas leva os comandos militares a serem seus partidários
político-eleitorais, são, por extensão, golpistas também.
Nada, nos seus regulamentos e limitações legais, os impede de,
institucionalmente, de pronunciarem a sua disposição a acatarem os resultados
das urnas, apurados e proclamados pelas autoridades eleitorais competentes. Ao
contrário, faz parte de seus deveres.
Não cumprir com estes deveres, ainda mais quando são apresentadas ao
mundo como um força golpista, isto sim é atacar as Forças Armadas, exibidas
internacionalmente como cúmplice dos planos golpistas de um presidente que, do
princípio ao fim, percorre todos os capítulos da lei de crimes de
responsabilidade.
E que se apresentam, silentes e perfiladas a crimes maiores, os crimes
de sangue que advirão de uma insurreição de bandos armados que, de dentes à
mostra, acorrerão ao uivo de Bolsonaro na derrota que se avizinha.
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