11/01/2012
Vinda do teatro do improviso, Dercy Gonçalves comandou na década de 1960 um programa de auditório exibido pela Rede Globo com o nome de ”Dercy de Verdade”. Cerca de 42 anos após o encerramento do programa, a emissora resgata seu título para batizar sua nova minissérie em quatro episódios, a qual se propõe narrar a vida desta comediante, popularmente conhecida como ‘a mulher que falava palavrão’.
Seja no Brasil ou no exterior, as minisséries biográficas costumam utilizar uma estrutura narrativa que têm como objetivo idealizar pessoas e suas trajetórias, oferecendo uma visão parcial e protegida da vida daqueles que são retratados. São raros os casos em que este recurso dramático oferece uma construção de personagens real ou mesmo imparcial.
“Dercy de Verdade” não foge à regra. Protegida pela autora e sem oferecer uma construção dramática que dimensione os diversos personagens e situações que compõem a história, a minissérie apresenta uma visão cor-de-rosa e romantizada da trajetória da comediante que saiu de Santa Maria Madalena para os palcos do Rio de Janeiro.
Em 43 minutos, o primeiro episódio narra rapidamente, como em um videoclipe, diversos momentos do início da carreira da atriz, bem como de seus relacionamentos com o pai, com o primeiro marido e com aquele que se tornaria o pai de sua única filha.
Os obstáculos são apresentados mas não são sentidos pelo telespectador, visto que são fácil e rapidamente transpostos.
Utilizando recursos de imagens de bastidores ou em preto e branco, bem como cenas da própria comediante, a minissérie inicia com Fafy Siqueira, que interpreta a Dercy madura.Em um palco, ela conta ao público sua trajetória.
A história leva o telespectador a Santa Maria Madalena, onde Heloísa Perissé, que interpreta Dercy jovem, enfrenta os maus-tratos do pai e o desprezo da sociedade. Fugindo com uma companhia de teatro, casada com um dos artistas, Dercy inicia sua carreira. Mais tarde, quando o marido fica doente, ela vai trabalhar no teatro em São Paulo. Em um bordel, conhece Valdemar, aquele que se tornaria seu benfeitor e pai de sua filha. O episódio encerra com o nascimento de Dercimar.
O objetivo da produção é fazer com que o público perceba o ser humano que existia por trás do estereótipo. Neste caso, a opção de narrar essa história no formato minissérie é acertada. Contudo, ao tentar alcançar esse objetivo, a autora transforma os demais personagens em caricatura à disposição da protagonista. Dercy viveu 101 anos de vida plena. É uma existência muito longa para ser compactada em quatro episódios.
Fernanda Furquim | Veja
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