29/02/2012
Ex Testemunha de Jeová relata perseguição que sofre por parte de seus próprios familiares
Caro ser humano igual a mim, pensei no primeiro momento que a vida havia perdido o sentido, chorei por meses talvez anos a ausência de meus pais (um simples bom dia meu filho! me fez muita falta), meu irmão caçula com dez anos de diferença era para mim como um filho, era de família pobre mas trabalhava muitas horas, e por gostar tanto do mais novo e por não permitir que ele passasse as mesmas amarguras financeiras por qual eu havia passado eu juntamente com meus dois outros irmãos mais novos o auxiliávamos financeiramente, meus pais com os pensamentos cristãos (TJ’S) nos proibiam de qualquer tipo de convivência com as pessoas do mundo e por tal motivo não participávamos de nenhuma festa ou comemoração cívica na época escolar, jogos interescolares então nem pensar! Tais coisas pareciam não fazer falta pois tínhamos o convívio dos “irmãos” do “SALÃO”. As festas natalinas nas casas de meus amigos e primos nunca participamos! A data de meu aniversario sequer eu ou meus irmãos sabíamos, mas nada disso importava, fomos criados de verdade por outra “sociedade” de pessoas, nossa cultura nos dava a certeza que éramos diferentes porque todas as outras pessoas que não eram crentes das mesmas “coisas” que eu, eram simplesmente pagãs e não tinham as bênçãos de Deus.
Acontece que como qualquer ser humano me tornei adolescente e com a puberdade veio os namoricos com as “irmãzinhas” (pegava-se nas mãos e acreditava estar namorando), quando me dei conta com quinze anos comecei a namorar uma das irmãs do salão para tanto pedi autorização para meus pais e para os pais dela que no mesmo dia me exortaram que no máximo poderia namorar seis meses e então deveria casar, tal afirmação me despertou medo pois era de família pobre como poderia tão jovem sustentar uma família? E com tão pouco tempo para se estabelecer?
Desisti de namorar oficialmente, passamos a ficar juntos as escondidas, para tanto usava os horários da pregação ( ir de casa em casa para falar de Deus) e das reuniões, tais encontros escondidos começou a me perturbar e a ela também, comecei a questionar os ensinamentos da religião, decidi conhecer novas coisas e na busca de novos conhecimentos encontrei outras pessoas, passei a ouvir tudo que meus colegas no serviço diziam a respeito de suas crenças e neste meio tempo conheci outra menina, que era de religião adversa a qual eu seguia, começava então minha felicidade enquanto pessoa mas o caminho para a “morte” naquele instante passei a trilhar!
Foram muitos meses de namoro escondido, fazia de tudo para que não me vissem com a menina que agora, eu percebia estava apaixonado, querendo ser igual a ela e sem me dar conta, falei que devíamos nos casar, graças a Deus encontrei tal mulher que até hoje é minha esposa, de imediato me advertiu que para casarmos deveríamos estudar, tentar nos estabelecer na vida e aí sim constituir uma família mesmo que humilde financeiramente. No mês seguinte decidi que a apresentaria para meus pais, pois os dela já haviam me conhecido e aprovado meu namoro.
Decepção maior (pensei) foi quando minha mãe perguntou se eu estava certo do que queria, pois eu sabia o que poderia me acontecer por namorar uma “mundana” (pessoa que não é da mesma religião para as TJ’s), indagação que fez com que minha namorada iniciasse a primeira discussão com minha mãe, pois em sua mente tal palavra tinha sentido pejorativo!
De imediato fomos embora e no caminho eu expliquei o que significava tal forma de tratamento. Prosseguimos com nosso namoro e no mês seguinte aparece no meu serviço um ancião e pede para me chamar e me informa que eu deveria comparecer a comissão para tratarmos sobre o meu namoro com a garota que não era testemunha de Jeová.
Meu dia acabou, fiquei ansioso com medo de ser desassociado, mas como, se não havia feito sexo com ela! Comecei então a ser otimista e a pensar no que iria dizer, cheguei em casa e avisei minha mãe, ela me disse que já sabia mas não poderia ter me avisado pois se o fizesse estaria desrespeitando os desígnios de Deus, juntamente com meu pai passou a me fazer perguntas sobre sexo, chorando queria saber se eu e minha namorada estávamos praticando fornicação e se isto tivesse acontecido eu sabia o que me aguardava e que ela e meu pai jamais poderiam conversar novamente comigo, tais afirmações me deram calafrios pois em meu inconsciente eu temia que tal dia chegasse.
Após afirmar para meus pais que não havia “pecado” fui para a comissão de avaliação e após muitas inquirições a respeito de meu namoro pensei ter convencido os três “julgadores” que eu não havia cometido pecado!
Depois daquele dia minha namorada passou até a me acompanhar em algumas reuniões, porém passou também a me expor fatos que me abriram a mente e me fez questionar os ensinamentos ditos de Deus por ex: a proibição de doar ou receber sangue, a proibição de festas de aniversario, natal, jogos, ser militar, cantar o hino nacional, etc..
Nosso namoro graças a DEUS foi se alicerçando e quase dois meses depois da comissão de avaliação, novamente em meu serviço aparece outro ancião, este me informa que estava me investigando e que tinha convicção de que eu já havia praticado fornicação, ao questionar como poderia fazer tal afirmação me disse que pela forma que eu demonstrava carinho para com minha namorada não havia duvida quanto ao que afirmara. Fiquei enojado com tal afirmação, pedi para que ele aguardasse um pouco , pedi a um colega de serviço um cigarro e sai fumando, tossindo, engasgando e disse para o ancião que meu único pecado era eu ter começado a fumar, mesmo porque, criei coragem e decidi que não daria satisfação de minha vida amorosa a ninguém, no mais temi também que minha namorada fosse tratada como “fornicadora” sem ao menos termos nos relacionado intimamente, engraçado que por mim eu teria feito, mas por ela é que tal ato não aconteceu!
Pelo meu ato de ira eu sabia que seria EXPULSO, então a noite, agora na comissão judicativa após os anciãos “orarem” pedindo a DEUS discernimento para julgarem minha vida, passaram a me questionar a respeito de meu namoro, de imediato eu disse que estava fumando, fui interpelado pelo ancião que havia dito estar me investigando que quanto ao cigarro talvez eu pudesse ter começado o vicio naquela semana, porque nunca havia me visto fumar e que eles estavam dispostos a me ajudarem a parar com o vicio desde que submetido as regras do salão (ficar seis meses sem participar da pregação ou comentários), porém quanto ao meu relacionamento se eu confessasse e mostrasse arrependimento verdadeiro as penas seriam as mesmas só que eu deveria me “separar” da “mundana” que estava me levando para a morte.
Irritado, a resposta mais lógica que encontrei foi me desassocia logo e não devo satisfação se fiz ou não sexo com minha namorada, vão cuidar de suas filhas pois a minha namorada tem um pai que sabe dela cuidar.
Naquela noite comecei a sentir o que é ser desprezado pelas pessoas que havia convivido desde pequenino, minha mãe e pai chorando muito me informaram que a partir daquele dia não mais conversariam comigo, que me dariam comida enquanto morasse com eles, mas que após eu casar sequer poderiam sentar a mesa comigo, nunca mais poderiam me cumprimentar, participar de almoço ou qualquer refeição em família e que todos os “irmãos do salão” e meus irmãos de sangue também jamais poderia confraternizar comigo.
Na semana seguinte foi anunciada para toda congregação minha desassociação e a partir daquele dia percebi o que é ser desprezado, humilhado, tratado como ser inferior senti na pele o que é ser a escoria da sociedade (graças a Deus, daquela sociedade a qual eu havia crescido).
Morando na casa de meus pais por mais de quatro anos após minha expulsão, fui me distanciando de minha família, passei a me apegar a meu sogro que por diversas vezes consolou minhas lagrimas e me confortava dizendo que se a crença de meus pais era aquela eu deveria me conformar e aceitar, eu nunca ouvi ele criticar a posição tomada por meus pais, meu irmão mais novo e minha irmã passaram a me tratar como se nunca tivessem me conhecido.
Naquele ano decidi que já poderia me casar, meus pais depois de muito eu pedir decidiram ir ao casamento que foi realizado em um clube sem ritos religiosos pois caso contrario eles não iriam. (ATÉ HOJE NÃO COMEM NA MESMA MESA QUE EU, EVITAM IR A MINHA CASA QUANDO ESTOU PARA VER AS NETAS E QUANDO ESTOU FALAM OI! E VÃO SE EMBORA DIZENDO ESTAREM ATRASADOS)
Os anos passaram minha esposa me incentivou a concluir os estudos, prestei concurso publico, me tornei militar do estado de São Paulo, minhas filhas vieram ao mundo passei a crescer como pessoa a me associar com pessoas de diversas crenças e nenhuma delas acredita nas formas de tratamento que as testemunhas de Jeová dispensam aos seus desassociados, continuei a estudar fiz teologia, diversos cursos de direitos humanos e atualmente estou me graduando em gestão de Recursos Humanos com intuito de me especializar em Gestão de pessoas, onde poderei expor com conhecimentos de causa a como tratar PESSOAS que por algum motivo se sintam diferente, humilhados, poderei mostrar as estas pessoas que vivemos em um país laico onde as crenças devem ser respeitadas, porem que o MAIOR RESPEITO DEVEMOS A DIGNIDADE HUMANA E QUE NENHUMA RELIGIÃO TEM O PODER DE TIRAR ISTO DE NÓS, MESMO QUE QUASE CONSIGAM, LUTAREI PARA NÃO PERMITIR QUE MAIS VIDAS SE PERCAM LITERALMENTE, POR MEDO, DEPRESSÃO, DESGOSTO POR SER TRATADO COMO INFERIOR e enfim poder servir de testemunha viva que no BRASIL independente da religião que se opine seguir, todos somos iguais não só em direitos mas em dever, dentre os quais o de ter uma vida digna sem preconceitos, limitações religiosas e discriminação por não se acreditar naquilo que o outro diz ser a verdade absoluta!
Meu irmão Sebastião Ramos, se desejar enviar para a magistrada este comentário fique à-vontade se desejar expor na internet idem cansei de ver pessoas sofrerem tudo que já sofri, ninguém merece passar por tais constrangimentos, e por incrível que pareça não terem forças para vencer, agradeço a DEUS e a MINHA ESPOSA E FILHAS, AGRADEÇO POR TER CONSEGUIDO, POIS A DEZESSETE ANOS EU NÃO TIVE A SORTE DE TER TE CONHECIDO NEM A CORAGEM DE TER BUSCADO MEUS DIREITOS, você é um guerreiro e pode contar comigo inclusive para testemunhar mesmo por precatória se precisar.
(Caso precise de testemunha me diga o que tenho que fazer, pois poderei fazer por precatória)
ABRAÇOS FRATERNOS!
ROGÉRIO JOSÉ BARBOSA
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