Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em Belo Horizonte 01/11/2021 (Foto: REUTERS/Washington Alves) |
"Conter o fascismo não é apenas derrotá-lo na eleição. É tarefa duradoura dos democratas"
O golpismo de patriota de porta de quartel, de arruaceiro de estrada e de tio e tia do zap vai cumprindo etapas e se dedica agora a um estágio que exige maiores doses de persistência e obsessão.
Começa a circular a tese segundo a qual a ameaça de golpe será permanente. E que quatro anos passam rápido.
Não mexam muito com os golpistas nem deprecie suas condutas, é o que andam dizendo. E andam também escrevendo em grandes jornais das corporações.
O recado agora, depois daquele para que mantivessem a fé, passa a ser: potencializem a disseminação do medo.
Deixem sempre incompleta a sensação de vitória do inimigo e prolonguem o desconforto com a eternidade de uma comemoração ainda provisória.
A extrema direita investe pesado na mensagem da quase convulsão social e da quase guerra civil como um cenário permanente. O resumo, que não precisaria ser feito, é este: o fascismo não dará folga.
Há no recado uma tentativa de prolongamento da esculhambação dos blefes, mesmo depois da posse de Lula, com mais ou menos intensidade, dependendo da região e do momento.
E daqui a dois anos teremos eleições municipais, quando Bolsonaro, a bancada de extrema direita, militares e empresários ativistas serão submetidos a novo teste de eficiência ao que foi conquistado por eles até aqui.
A extrema direita começa a testar desde já a capacidade que a democracia terá de assegurar perenidade ao ambiente que se cria com a volta de Lula.
Não é um desafio para o PT, para Lula ou para as esquerdas. Conter o fascismo não é apenas derrotá-lo na eleição. É tarefa duradoura dos democratas, para que a vitória não seja uma ilusão temporária.
O Judiciário, o Ministério Público, as polícias e também os militares sob novo comando serão capazes de enfrentar os que hoje mandam recados?
Temos menos de um mês para lidar com as manifestações diárias de golpe, com os espasmos de bloqueios nas estradas e com os patriotas acampados nos quartéis.
E depois teremos um cenário com novo governo no poder. Para usar a palavra consagrada desde o golpe de 2016, estamos entrando no período das tentativas de normalização do clima desejado pelos derrotados.
O Brasil normalizou Bolsonaro e os militares por quatro anos e passa a ser convidado a normalizar o fascismo como oposição.
São ações acintosas e repetitivas. Estão ameaçando nas redes sociais até Papai Noel de shopping em Santa Catarina, o Estado que construiu por conta e risco o estigma de mais bolsonarista do Brasil. Os perdedores não aceitam ninguém vestido de vermelho.
É a imposição dos que estão certos da impunidade e, quem sabe, de uma trégua pretensamente pacificadora.
Janeiro está logo ali e nos dirá se eles continuarão com liberdade para atacar Lula, o governo e o Supremo.
Lula e as instituições estão diante do fascismo descarado, que não para de falar, incitar violências e cometer crimes.
A extrema direita orgânica estruturada nos partidos e agora com a maior bancada do Congresso, o mercado financeiro, os patriotas, os milionários sonegadores já sem a proteção da família e mais os milicianos e assemelhados pretendem manter Lula e o STF acossados.
O golpismo permanente, impositivo, gritão, violento e impune tem a pretensão de cercar e cansar a democracia.
Até agora, as instituições estão apenas se defendendo. Lula no poder oferece a legitimidade e a chance para que passem a tomar a iniciativa. Comecem salvando o Papai Noel.
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