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Dez anos sem Cássia Eller

26/12/2011
Dez anos após a morte de Cássia Eller, surgem justas homenagens em novos CDs e também no cinema

São dez anos sem a voz rouca rasgada, sem as performances viscerais no palco, sem a língua afiada. Mas o lamentável mesmo nestes dias que antecedem o aniversário de morte de Cássia Eller (29/12) - pelo menos para o público - é imaginar quantas outras canções fantásticas deixamos de entoar, provavelmente a plenos pulmões, com sua precoce partida. Cássia morreu no auge da carreira, deixando um mundo de possibilidades.

O rock brasileiro certamente ficou mais careta; a MPB, então, nem se fala. Essa, aliás, foi uma das características mais marcantes de Cássia - fluir facilmente entre dois universos tão distintos da música. E fazia isso de uma maneira tão própria que, no fim, não era mais nem uma coisa nem outra, tornava-se algo novo.

Não por acaso, aqui e ali ainda ganha o equivocado título de compositora, quando, na verdade, quase sempre fez releituras ou trabalhou com letras sob encomenda (ou enviadas por colegas e amigos). No fim, porém, tamanha era a criatividade nos arranjos e no vocais que o material se tornava seu. Isso ficou bastante claro logo no primeiro álbum da cantora, "Cássia Eller", lançado em 1990, com uma versão da música "Por enquanto", de seu ídolo Renato Russo, faixa que fechava o primeiro álbum da Legião Urbana. A original traz arranjos eletrônicos e um clima obscuro, sob forte influência de grupos fundamentais para o Legião, como Joy Division e seu derivado, o New Order.

Cássia eliminou tudo isso, colocando violão, flauta e violino no lugar. "´Por enquanto´ era uma música menor da Legião. Cássia deu uma dimensão completamente diferente a ela", ressalta o jornalista e crítico musical Arthur Dapieve, figura importante na carreira de Cássia. Coube a ele escrever o release do primeiro CD da "nova roqueira de Brasília", como então definira a PolyGram (hoje Universal) - embora a cantora tivesse nascido no Rio de Janeiro.

"Qualquer um saberia de cara da qualidade da Cássia. A partir dali, passei a acompanhar sua carreira", recorda o jornalista sobre a primeira audição. "Não havia outra cantora com aquela proposta roqueira. Cássia vinha preencher essa lacuna, abriu a cotoveladas seu espaço em um gênero até então muito machista", destaca Dapieve.

"Seu comportamento em público, aliás, era bem diferente do privado. Muitas pessoas de sua convivência a descreviam como tímida. Era uma maneira de se afirmar como transgressora, como criadora", aponta o crítico. E assim Cássia seguiu, cantando de Beatles (dos quais era fã declarada - em entrevista à Dapieve, disse que seu jeito de cantar era uma tentativa de imitar John Lennon) e Cazuza até Caetano Veloso, Luís Melodia, Gilberto Gil e Itamar Assumpção.
Adriana Martins – Diário do Nordeste
Dez anos sem Cássia Eller
26/12/2011
Dez anos após a morte de Cássia Eller, surgem justas homenagens em novos CDs e também no cinema

São dez anos sem a voz rouca rasgada, sem as performances viscerais no palco, sem a língua afiada. Mas o lamentável mesmo nestes dias que antecedem o aniversário de morte de Cássia Eller (29/12) - pelo menos para o público - é imaginar quantas outras canções fantásticas deixamos de entoar, provavelmente a plenos pulmões, com sua precoce partida. Cássia morreu no auge da carreira, deixando um mundo de possibilidades.

O rock brasileiro certamente ficou mais careta; a MPB, então, nem se fala. Essa, aliás, foi uma das características mais marcantes de Cássia - fluir facilmente entre dois universos tão distintos da música. E fazia isso de uma maneira tão própria que, no fim, não era mais nem uma coisa nem outra, tornava-se algo novo.

Não por acaso, aqui e ali ainda ganha o equivocado título de compositora, quando, na verdade, quase sempre fez releituras ou trabalhou com letras sob encomenda (ou enviadas por colegas e amigos). No fim, porém, tamanha era a criatividade nos arranjos e no vocais que o material se tornava seu. Isso ficou bastante claro logo no primeiro álbum da cantora, "Cássia Eller", lançado em 1990, com uma versão da música "Por enquanto", de seu ídolo Renato Russo, faixa que fechava o primeiro álbum da Legião Urbana. A original traz arranjos eletrônicos e um clima obscuro, sob forte influência de grupos fundamentais para o Legião, como Joy Division e seu derivado, o New Order.

Cássia eliminou tudo isso, colocando violão, flauta e violino no lugar. "´Por enquanto´ era uma música menor da Legião. Cássia deu uma dimensão completamente diferente a ela", ressalta o jornalista e crítico musical Arthur Dapieve, figura importante na carreira de Cássia. Coube a ele escrever o release do primeiro CD da "nova roqueira de Brasília", como então definira a PolyGram (hoje Universal) - embora a cantora tivesse nascido no Rio de Janeiro.

"Qualquer um saberia de cara da qualidade da Cássia. A partir dali, passei a acompanhar sua carreira", recorda o jornalista sobre a primeira audição. "Não havia outra cantora com aquela proposta roqueira. Cássia vinha preencher essa lacuna, abriu a cotoveladas seu espaço em um gênero até então muito machista", destaca Dapieve.

"Seu comportamento em público, aliás, era bem diferente do privado. Muitas pessoas de sua convivência a descreviam como tímida. Era uma maneira de se afirmar como transgressora, como criadora", aponta o crítico. E assim Cássia seguiu, cantando de Beatles (dos quais era fã declarada - em entrevista à Dapieve, disse que seu jeito de cantar era uma tentativa de imitar John Lennon) e Cazuza até Caetano Veloso, Luís Melodia, Gilberto Gil e Itamar Assumpção.
Adriana Martins – Diário do Nordeste

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