Foto:
Nilton Alvez
Com maior navegação por cabotagem (destinada a outros portos
nacionais) e safra de frutas acima das expectativas, a movimentação de
contêineres no Pecém vem registrando os maiores volumes da história em 2020
Por Bruno
Cabral
São Gonçalo do
Amarante 04 de Dezembro de 2020
Mesmo diante
de um ano marcado pela crise gerada pelo coronavírus, com queda de demanda,
escassez de matéria-prima, e restrições para circulação de mercadorias, dentre
outros entraves, o Porto do Pecém vem batendo recordes na movimentação de
carga. O resultado vem sendo puxado principalmente pela cabotagem (navegação
entre portos brasileiros) e pelas exportações de frutas. E, com essa
recuperação, a expectativa é fechar o ano com crescimento na operação de
contêineres.
Em outubro, o
porto bateu, pelo segundo mês seguido, o recorde na movimentação mensal, com o
embarque e desembarque de 46.705 TEUs (unidade equivalente a 1 contêiner de 20
pés). O resultado foi 19,1% maior que o recorde anterior, registrado em
setembro (39.207 TEUs). Até então, o melhor resultado havia sido em outubro do
ano passado (36.425 TEUs). No décimo mês de 2020, o Porto registrou a maior
movimentação mensal de placas de aço no ano, com avanço de 5,9% em relação a
outubro de 2019.
Segundo Daniel
Rose, diretor superintendente da APM Terminals Pecém, empresa que movimenta
todos os contêineres que passam pelo porto, hoje, a atividade portuária está
bem acima das expectativas que os operadores tinham durante os piores meses da
crise. “Considerando tudo o que aconteceu, estamos bem melhores do que achávamos
que estaríamos agora. Tivemos uma exportação de frutas realmente muito boa, o
dobro do ano passado. Então, estamos muito satisfeitos”.
Cabotagem
O incremento
na movimentação de contêineres neste ano está fortemente relacionado com
crescimento da cabotagem, com o embarque e desembarque de produtos diversos, e
pelo envio de frutas ao exterior. Considerando a movimentação total
(contêineres e granéis e cargas soltas) até setembro, o Porto do Pecém
movimentou 11.562.977 toneladas, o equivalente a 63,8% do total movimentado em
2019 (18.100.767 toneladas).
De acordo com
Daniel Rose, o volume movimentado por cabotagem registrou forte queda no
segundo trimestres, mas tão logo as atividades foram gradualmente retomadas, a
movimentação voltou rapidamente, com o retorno de linhas que haviam sido
suspensas. “No meio do ano, estávamos um pouco pessimistas, mas em agosto o
fluxo voltou com muita força. Tivemos um mês de julho muito ruim e, de agosto
para a frente, voltou com força, principalmente cargas para a construção civil
e eletrodomésticos em geral. As linhas da Aliança que haviam sido suspensas
voltaram em julho”.
De acordo com
a APM Terminals, a navegação por cabotagem responde, hoje, por 70% dos
contêineres movimentados pela companhia no Pecém. “Acredito que esse movimento
tenha sido provocado pelo aumento dos custos do frete, e pela forte demanda por
produtos para a casa, como ar-condicionados, máquinas de lavar, dentre outros,
produzidos na Zona Franca de Manaus”, diz Rose.
Segundo Raul
Viana, gerente de Negócios Portuários do Complexo Industrial e Portuário do
Pecém, as operações de cabotagem e a safra de frutas de 2020/2021 foram os dois
principais motivos para essa alta nos números no segundo semestre. Considerando
a média mensal, no entanto, o porto movimentou 1,284 milhões de toneladas, até
setembro, contra 1,508 milhões de toneladas em 2019, o que representa uma
retração de 14,8%.

Expectativa para 2021
Rose diz que,
inicialmente, não havia previsão de crescimento da movimentação neste ano, mas
que agora, após a rápida recuperação, a expectativa é fechar o ano com 370 mil
TEUs movimentados, volume 5,1% superior ao de 2019 (353 mil TEUs). Para 2021,
apesar das incertezas e pouca visibilidade sobre o cenário macroeconômico no
futuro próximo, Rose diz que a expectativa é de que haja um crescimento
“saudável”.
“Nós vemos
2021 com muita incerteza ainda. Mas acreditamos que a cabotagem vai continuar a
crescer, que vamos continuar a ver essa mudança do rodoviário para a cabotagem.
E mesmo com toda essa incerteza, ainda acreditamos que podemos ficar com um
crescimento saudável em torno de 5% para navegação de longo curso e de 10% para
a cabotagem”, diz Rose.
Sobre a
possibilidade de uma eventual nova paralisação das atividades econômicas devido
a uma segunda onda de contaminação nos próximos meses, Rose acredita ser
improvável que haja um novo fechamento como o que ocorreu no primeiro semestre.
“Pensamos que não irá haver um fechamento total. Isso não significa que algumas
atividades de alguns locais possam fechar. A Europa, por exemplo, fechou
bastante coisa agora, mas a indústria continua. Além disso, os números do covid
de casos e mortes estão bem menores do que antes. Então não contemplamos um
novo fechamento total”, diz.
Infraestrutura
O
significativo aumento do volume de frutas exportadas pelo Pecém fez com que o
porto recebesse, no final de agosto, o maior navio a atracar em um porto
cearense, o MSC Shuba B, com 330 metros de comprimento, 48 metros de largura e
capacidade para 12.238 TEUs. A atracação do cargueiro foi possibilitada pela
conclusão do berço 10 de atracação, que elevou a capacidade operacional do
porto. “O novo berço 10 posiciona o Pecém entre um seleto grupo de portos da
América Latina que pode receber novos navios Panamax com calados de até 15,3
m”, destaca Daniel Rose.
Os contêineres
que passam pelo Porto do Pecém são movimentados por dois superguindastes do
tipo STS (Ship to Shore), operados desde julho de 2016 pela APM Terminals.
Também conhecidos como portêineres, os STS, diferente de outros tipos de
guindastes, possuem maior velocidade no desembarque e embarque de contêineres
para os navios.
“Esse recorde
demonstra o quanto o Porto de Pecém está preparado para movimentar grandes
quantidades de carga. Principalmente depois que o terminal ganhou mais um berço
de atracação e passou a ter a capacidade operacional de receber até 10 navios
simultaneamente, reduzindo assim o tempo de espera dos navios”, disse André
Magalhães, gerente comercial da APM Terminals, ao comentar os resultados em
outubro.
Placas de aço
Um dos
principais itens da pauta de exportação do Ceará, as placas de aço da Companhia
Siderúrgica do Pecém (CSP) também vêm impulsionando a movimentação. Em outubro,
o porto exportou 275.331 toneladas do produto, alta de 5,9% ante igual mês de
2019 (259.923 t). De janeiro a outubro, o Porto exportou 2.184.885 toneladas de
placas de aço. O principal destino foram os EUA, que receberam 791.954 t do
produto.
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