A jornalista Míriam Leitão Foto: João Cotta/TV Globo |
Em sua coluna dominical em O Globo a jornalista Míriam Leitão faz pesadas críticas à “herança” que está sendo deixada pelo governo Bolsonaro. Apesar de defender “o rigor nos gastos do governo”, afirma que para “consertar essa bagunça” será necessário aumenta-los e por fim constata: o país está em escombros
Abaixo, trechos:
Maldita é palavra feia e forte, mas a única possível para definir a herança deixada por Bolsonaro. Há uma devastação no país. Quem seleciona números para dizer que o país melhorou comete erros. Números nada dizem sem o contexto. O orçamento é inexequível. E é também uma arapuca que está tirando capital político e drenando as forças do governo eleito. (…)
Se um liberal na economia quiser dizer que a herança do governo Bolsonaro foi boa terá que abstrair muita coisa. Bolsonaro desmoralizou a governança da Petrobras, subsidiou e manipulou preços dos combustíveis com interesses eleitorais, usou a Caixa Econômica como centro de propaganda, rompeu o teto de gastos várias vezes e em uma delas embutiu um calote, o não pagamento dos precatórios. (…)
Na saúde, o grupo de transição alertou que existem R$ 2 bilhões de vacinas e remédios vencidos ou por vencer. As crianças têm a menor cobertura vacinal em décadas e podem contrair doenças que já haviam sido erradicadas. Na educação, foram cortados 97,5% das verbas para a construção de creches, a merenda escolar está sem reajustes há cinco anos, quando a inflação de alimentos foi de 43%, o programa de combate à violência contra a mulher teve um corte de 90%, o fornecimento de remédios para os pobres tem no orçamento proposto um terço dos recursos que teve no último ano do governo Temer. É exequível esse orçamento? Qual é a previsibilidade que dá um orçamento assim? (…)
O fiscal não é um tema solto no ar, sem relação com o resto. Consertar toda essa bagunça implica em aumentar gastos. Não permitir a recomposição desses itens de despesas é condenar ao fracasso o governo que nem começou. Como jornalista de economia, tenho sempre defendido e continuarei defendendo a sustentabilidade da dívida pública e o rigor nos gastos do governo. Mas, sejamos sinceros, o país está em escombros.
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