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Casagrande é o nome do Brasil nessa Copa | Por Leonardo Mendes


Walter Casagrande Foto: Ramón Vasconcelos

Poderia ser Richarlison também, mas se tivesse que escolher apenas um ficaria com Casão.

Em dois textos arrasadores, ele conseguiu se fazer ouvir em alto e bom som até nos camarotes vips e nas churrascarias de ouro do Catar, onde multimilionários futebolistas, esquecidos completamente de suas origens e do sofrimento do seu povo, ostentam toda sua soberba e ignorância.

Não que eles sejam culpados por isso. E Paulo Freire talvez pudesse ajudá-los a se reconectar com essas origens, e acordar do sonho do oprimido em se tornar opressor.

Alçados, porém, ao topo de uma pirâmide onde pouquíssimos conseguiram chegar, bajulados por toda sorte de puxa-sacos, assessores, familiares e parasitas, estranho seria se não se descolassem completamente da realidade. Estranho é Richarlison.

Não nasceram bons ou maus, mas, em geral, excluídos de uma sociedade que forma identidades a partir do poder de consumo, que bombardeia por todos os lados propagandas para capturar o desejo e enquadrá-lo na reprodução capitalista. Estranho seria terem forças para resistir, quando desde sempre lhes foi negada uma educação libertadora.

Muito mais fácil é acreditar que são realmente muito especiais, escolhidos de Deus, ou que se esforçaram mais do que os outros e, por fim, merecem comer filé banhado a ouro, enquanto milhões passam fome.

Que esses famintos se esforcem mais, que aprendam a chutar uma bola com excelência, ou na falta de pão, comam brioches.

Não deixa de ser curioso também que de fato acreditem que não devem satisfações de como torram (ou sonegam) seus milhões, quando almejam ao mesmo tempo ser “exemplo para as crianças”, “dar alegria ao povo” e outros chavões repetidos ad nauseam.

Problema também é que muitos desses milhões entram em suas contas (ou vão parar em paraísos fiscais) via contratos publicitários, e cagar ouro, apoiar políticos de extrema-direita ou defender golpes militares podem significar no futuro uma aposentadoria menos farta, se Deus ou os patrocinadores ouvirem nossas preces.

O fato é que Casagrande foi ouvido, e incomodou bastante, expondo a arrogância hipócrita desses “heróis”. Ainda teve tempo de expor sujeiras de Tiago Leifert, filhinho de um poderoso diretor da Globo, que resolveu sair em defesa dos jogadores patriotas.

Deixo então como homenagem a esses homens tão talentosos uma citação do filósofo alemão Martin Heidegger, que também nunca foi um bom exemplo em suas posições políticas, mas quase sempre genial no seu ofício de escrever:

“Quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo. O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas”.

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