Bolsonaro e Mauro Cid – Foto: Reprodução |
Braço direito de Bolsonaro tomou providências considerando os itens como se fossem de destinação pública, mas também como presente pessoal para o ex-presidente
Braço direito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid fez “jogo duplo” para reaver o conjunto de joias recebido da ditadura da Arábia Saudita pelo governo do ex-capitão. A informação se dá após a análise dos depoimentos de testemunhas à Polícia Federal (PF) no caso.
De acordo com o Blog do Octavio Guedes, do G1, no final de dezembro, Cid providenciou a documentação necessária para realizar um procedimento burocrático junto à Receita Federal que só pode ser feito em caso de bens com destinação pública. O procedimento, chamado de “incorporação”, tinha como objetivo retirar os itens da alfândega.
O ofício assinado por Cid para fazer o procedimento de incorporação descreve as joias em detalhes (“conjunto de joias, colar, par de brincos, anel e relógio de pulso, conforme certificado de autenticidade Chopard”) e afirma: “Trata-se de pedido para incorporação dos bens abaixo descritos a este órgão da União”.
Bolsonaro e Mauro Cid – Foto: Reprodução |
Cid, entretanto, enviou o documento ao então chefe da Receita, Julio Cesar Vieira Gomes, que o repassou a outros funcionários da Receita com os dizeres “solicito atender”. “O ofício era muito claro no sentido de incorporação ao órgão público da Presidência da República”, disse Gomes em seu depoimento à PF.
Enquanto isso, o bolsonarista atuou internamente para que, uma vez que as joias saíssem da Receita, elas fossem para o acervo privado do ex-chefe do Executivo.
Em depoimento à PF, o assessor subordinado a Cid na Ajudância de Ordens, o 2º tenente do Exército Cleiton Hozschuck, afirmou que teve conversas de WhatsApp com o apoiador do ex-mandatário sobre as peças retidas na alfândega ao longo dos dias 28 e 29 de dezembro.
Ele disse que Cid afirmou que as joias iriam para o “acervo pessoal do presidente da República”. Cleiton, por sua vez, contatou outra funcionária da Ajudância de ordens para adiantar a documentação necessária para concluir o procedimento.
A funcionária, que preparou um ofício que relataria a conclusão do processo, disse à PF que escreveu que o “presente” havia sido transferido para a “posse do Presidente da República, como presente pessoal e não institucional”. Ela também acrescentou que “os itens encontram-se com o Presidente da República”.
Vale destacar, no entanto, que quem pode dizer se um presente enviado ao presidente é considerado um bem público ou um bem privado é o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH). Diante disso, Cid ligou para o então chefe do GADH, Marcelo da Silva Vieira, no dia 28 de dezembro.
O bolsonarista disse durante a ligação que chegariam presentes destinados ao ex-capitão e que ele, Cid, encaminharia informações “por meio eletrônico, inclusive o formulário de encaminhamento e respectivas fotos, para que fossem tratados pelo GADH, pois o presente físico seria entregue ao seu titular”.
O objetivo de Mauro Cid era entregar as joias nas mãos de Bolsonaro ainda no dia 29 de dezembro, antes do embarque do ex-presidente para os EUA, no dia 30.
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