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Depois do susto, família cearense fala de naufrágio

17/01/2012

O medo ainda estava estampado no rosto da empresária Leyla Pinto e de seus filhos Plínio, Pedro e Salvio, mesmo 96 horas após o naufrágio do navio Costa Concordia, na Itália. Eles e mais 13 cearenses, sendo 15 da mesma família, que comemoravam as bodas de ouro dos avós Seleste e Pedro Jorge Bezerra, desembarcaram, ontem, no Aeroporto Internacional Pinto Martins em Fortaleza.

Em entrevista coletiva, na tarde de ontem, a empresária e seus filhos contaram os momentos de pânico que eles e o restante de sua família viveram. "Estávamos jantando às 21h30, quando ouvimos um barulho e sentimos um impacto. Por um período, tudo ficou calmo, mas, quando o navio começou a virar, foi dado início ao caos", explicou o estudante de Medicina, Plínio Pinto.
Ele destacou que, somente ao observar que os funcionários do cruzeiro estavam bastante preocupados com a situação, teve certeza que o que estava acontecendo não era normal.

De acordo com Leyla, quando a embarcação começou a ficar de lado, ela pôde ouvir os pratos e copos do restaurante caindo e se quebrando. A empresária se lembrou logo do que aconteceu com o navio Titanic, que naufragou em 1912. "Quando ouvi o meu filho mais novo gritando por mim, só pensei em agarrá-lo para poder protegê-lo".

Ela acrescentou que, devido ao choque emocional causado pelo acidente, o seu pai não conseguiu se levantar da cadeira na mesa de jantar.

O pequeno Salvio Pinto Júnior, 9, se emocionou ao falar dos momentos dentro da embarcação. "Quando o navio começou a virar, eu fiquei com medo. Tinha muito vidro no chão, pessoas machucadas e a minha mãe acabou escorregando no chão".

Botes

Já o estudante de Medicina comentou que havia colete salva-vidas para todos que estavam no cruzeiro, mas a sensação era de que o número de botes não seria suficiente para atender a demanda. "O caos era total. Parte da tripulação não sabia o que fazer. Quem mais nos ajudou foram os garçons e camareiras".

Devido ao pânico instalado em todo o navio, Leyla, Pedro, Salvio, Plínio e sua namorada, Lia Cavalcante, acabaram se separando do restante da família. "Para conseguir entrar nos botes, era uma verdadeira luta. Devido ao medo, as pessoas não estavam respeitando mulheres, crianças e nem os mais velhos", reclamou Plínio Pinto.

A empresária ficou ainda mais preocupada depois que se perdeu do restante de seus parentes. Ela contou que não poderia ir a procura de seus pais e irmãos, pois tinha que cuidar de seus filhos também. A única solução encontrada por Leyla foi rezar para que seus irmãos pudessem proteger seus pais.

Segundo ela, outro problema enfrentado pelos cearenses foi descobrir para onde estavam sendo levados pelos botes salva vidas. Além disso, eles estavam com muito frio, pois usavam roupas de festa, e também com muita fome.

Ajuda

Eles foram levados para a Ilha de Giglio, na Toscana. Lá, segundo a família, moram apenas 800 pessoas. Por isso, a chegada dos quase cinco mil tripulantes mudou a rotina de todos. "Foram eles que lançaram o pedido de socorro para a Guarda Costeira italiana, também nos deram cobertores e nos forneceram abrigo na igreja", frisou Leyla.

Após chegar em terra firme, a angústia continuou. A família ficou por cerca de três horas em busca dos seus parentes. A procura de mais informações, Plínio foi até o cais do porto da ilha para ver se seus tios e avós chegavam em algum bote.

"Na ilha, tinha muitas pessoas perdidas, principalmente crianças. Além disso, nos botes que chegavam vimos muitas pessoas bastante machucadas pois pularam do navio e bateram nas rochas, muitos passageiros com hipotermia e também vi alguns corpos sendo resgatados".

Devido ao acidente, a família perdeu todos os pertences que havia levado nas malas. Por isso, viajaram durante três dias para voltar a Fortaleza, com a roupa do corpo e sem dinheiro. "Depois de tudo isso, não pretendo fazer mais fazer nenhum cruzeiro", afirmou Leyla.

A Guarda Costeira italiana informou que quatro tripulantes e 25 passageiros ainda estão desaparecidos após o naufrágio. O acidente deixou seis mortos e pelo menos 60 feridos.
THIAGO ROCHA – DIÁRIO DO NORDESTE

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